De: João C. Costa - "O Cosmopolita Parolo"
Nesta época de Santos Populares, depois de ler o post de Nicolau Pais, lembrei-me também de como o feriado de Santo António tem contribuido nos últimos anos para a produtividade nacional agrupado pois que ao 10 de Junho. Dir-me-ão que o Santo não tem culpa e acredito que não. Certo porém é que, paulatinamente, todo o país terá de comprar as comemorações populares deste, mesmo que o seu Santo seja outro. Pois que a principal preocupação da greve dos pescadores era a sardinha...!
Mas não posso disfarçar mais aquilo que inicialmente começou há uns anos num sorriso e agora se escancara numa gargalhada: o cosmopolita parolo. Lembro-me há uns anos de estar na estação de Campanhã pela mão da minha mãe, atrás dum magala que não se despachava porque queria um bilhete para o Alentejo! E a rapariga da bilheteira dizia-lhe, "... sim, está bem, mas Alentejo onde? Tem que me dizer a terra..." e o coitado que já vinha de faces rosadas de mais a norte, respondia-lhe "ó minha senhora, disseram-me que ia para a tropa no Alentejo e agora sei lá disso...?" Retive a mágoa duma criança que assiste com pena ao resultado de anos e anos de obscurantismo e fraca educação para com alguém, que apesar de parolo de lá de cima, não tinha culpa de tentarem fazê-lo de parvo, não lhe tendo dito em que quartel tinha de se apresentar...?
Hoje não tenho mágoa, dá-me sim uma grande vontade de rir. Daqueles que, estando na capital, se referem a este país de 92000 km quadrados como tendo duas terras e uma capital: o Norte, o Algarve e Lisboa (pois que são estas apenas as placas das autoestradas que conhecem). É que, agora, esta cómoda ignorância não se deve a antecedentes históricos, são voluntários duma visão moderna e europeia. A visão moderna e europeia do Cosmopolita Parolo!
João C. Costa
P.S. É verdade, já me esquecia: é que eu também me revejo naquela tese do Carlos Magno, de que o Porto ser a capital do Norte é uma invenção de Lisboa. Faz parte da estratégia que entendo das palavras do Tiago "... e perceba que só não tem poder quando o oferece a outros" a propósito do "NÃO" da Irlanda.