De: Teresa Stillson - "Desportos radicais na Foz - Carta Aberta"
Caríssimo Presidente
Com certeza que não passeia há muito pela Foz, nomeadamente pelas Avenidas do Brasil e Montevideu, nem pelo Parque da Cidade. Acho que só lá deve ir quando há corridas de automóveis. Talvez por isso não imagine sequer a "bandalheira" que por ali se passa. Desculpe-me o palavrão mas é a única forma "decente" que eu encontro para classificar o que se passava ontem de manhã, 10 de Junho, naquela zona.
Compreendo que as obras que estão a ser levadas a cabo possam ser importantes e necessárias. Agora, nada justifica que, num feriado, quando milhares de portuenses pretendem calmamente aproveitar o sol que, este ano, tarda, sejamos confrontados com: carros carrinhas e camiões a circular no passeio, pedras, pó e porcaria pelo chão. A Esplanada do Molhe está transformada num ENORME ESTALEIRO e mais parece uma qualquer feira de equipamento de construção de estradas. O passeio à cota baixa está quase inteiramente destruído. A balaustrada ora está a ser recuperada, como logo a seguir é deitada abaixo pelas máquinas. A praia está completamente impraticável e o fim das obras nem sequer se vislumbra.
Às dez da manhã, quando passeava com a minha família, fui obrigada a desviar-me de uma "retro-escavadora" (acho que é assim que se chama) que circulava impunemente no passeio. Às dez e meia tivemos de nos acautelar, igualmente no passeio, de uma carrinha cujo motorista circulava a falar ao telemóvel. Quando o questionei, disse-me simplesmente - estou a trabalhar! Eu, efectivamente não estava a trabalhar e, por isso, calei-me!
Às onze, no Parque da Cidade, ao fundo da 2ª Rua Particular do Castelo do Queijo, havia sido cortada a passagem de quem descia em direcção à praia, por um grande buraco junto ao qual uma máquina e dois carros estavam estacionados enquanto os trabalhadores bebiam uma "cervejita". É que o dia estava a começar soalheiro! Às onze e meia, notei que as árvores do jardim da praia do Homem do Leme (pelos vistos a única que tem bandeira azul) servem sobretudo para abrigar os carros dos empreiteiros, da canícula!
E eis que, ao meio dia, vemos chegar à esplanada do Molhe um jipe cinzento que, pela forma como galgou o lancil e estacionou ostensivamente sobre o passeio junto à guitarra gigante que parece estar ali apenas a atrapalhar as obras, imaginei transportar alguém importante. Acorri, esperançada, pensando que poderia ser o Presidente em pessoa a visitar as grandiosas obras do Projecto Bandeira Azul e que logo ali teria oportunidade de lhe dar os parabéns pelo que tinha presenciado. Mas não, presunção minha, V. Exa. só costuma vir quando tudo já está pronto. Disseram-me tratar-se de um tal engenheiro Poças Martins que, pelos vistos, é o cérebro desta operação tão bem organizada. E não só, também pelo esventramento selvagem de grande parte das rua da Foz e Nevogilde. Sim senhor, com gente assim não duvido que tudo estará pronto a tempo do próximo Grande Prémio, em 2009.
E assim terminou mais uma manhã de desportos radicais que conseguiu toldar por completo o "glamour" da operação montada pela outra empresa municipal, a Porto Lazer, entre o Castelo do Queijo e o Edifício Transparente, onde o "Mens Sana in Corpore Sano" do Basquetebol, Futebol e outros desportos infantis, calmamente convive com o colesterol das francesinhas, o malte fermentado da cerveja e os decibeis dos altifalantes. "Pane et Circenses".
Teresa Stillson