De: Rui Valente - "Desamparo aprendido... mal apreendido"
Caro Tiago,
O António Alves (se o entender) responder-lhe-á bem melhor do que eu, mas permita-me que lhe dê a minha própria resposta.
"Quem é o inimigo?", foi a sua questão. O inimigo é, em duas palavras, quem tudo tem feito para ser avaliado como tal: o Governo de Lisboa. Por quê? Imagina que o A. Alves se estava a referir a nuestros hermanos? Eu penso que não. O inimigo (e isso é que deve ser salientado) está de facto cá dentro, no território, a gerar cisões territoriais, a multiplicar desgostos, a semear desemprego, a arruinar famílias, a fomentar a emigração, a potenciar a criminalidade. Tem dúvidas? Ou considera essas acções, inequívocos manifestos de amizade? Nem de solidariedade sequer são.
O post do A. Alves com o seu pertinente desamparo aprendido é para reflectir e para levar a sério e extremamente profilático para os mais distraídos. Se o Governo é o que todos sabemos, e a oposição consome os recursos com guerras intestinas pelo poder e se alheia dos reais problemas, qual é a surpresa?
O Tiago filiou-se no PSD e já está a fazer o seu papel de militante, o que se aceita. Só tem é que interiorizar melhor que o eleitorado (lembre-se das crescentes taxas de abstenção e de votos em branco) não se limita aos portugueses com filiação partidária. Muitos (como eu), não se revêem em nenhum partido político, pela simples razão de não lhes merecerem crédito. E não é apenas porque sim, é concretamente porque S. Exas. os nossos governantes cultivaram hectares e hectares de mentiras e decepções, durante anos a fio, e agora têm de saber colher os correspondentes resultados. Se não sabem, que aprendam, que uma dose de humildade nunca fez mal a ninguém.
Um dia, caso isto descambe para o torto, talvez então se lembrem que as coisas más não acontecem só lá fora. Mas depois não falem de terrorismo, de violência, porque os responsáveis primeiros não serão seguramente os eventuais "revoltados". Cá, como lá, há pessoas capazes dos actos mais nobres, como das barbáries mais inesperadas, basta que o clima seja propício e isso acaba por acontecer. Sempre foi assim. E o que é preocupante é não se admitir sequer essa hipótese. A União Europeia não faz milagres, principalmente quando a fome apertar e os países perderem a sua própria coesão.
As pessoas não vivem todas 100 anos e precisam de viver. Estão cansadas e zangadas com as promessas que se fazem e ficam sempre por cumprir. Já chega.
Rui Valente