De: Nuno Casimiro - "Entrevista a Arlindo Cunha"
"Não considera que há o risco de alienação do centro histórico do Porto aos grandes grupos económicos, nomeadamente espanhóis?
Francamente, não partilho dessa visão do mundo. O que nós precisamos é que os centros das cidades voltem a ter vida: que os edifícios sejam reabilitados ou sejam ocupados por pessoas, respeitando as características de quem lá está e de quem venha de fora.
Sem o cuidado de acautelar o risco de o centro histórico se transformar em condomínio de luxo, só para alguns?
Desculpe, mas o que é que tem contra o luxo? Se for a cidades como Barcelona ou Manchester, percebe que só se consegue contrariar a tendência de decadência atraindo para o centro gente com outra capacidade de compra."
O ex-ministro da agricultura que um seu amigo elevou a eminência parda da Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto (além de ser funcionário da CCDR-N, presidente da Fundação Rei Afonso Henriques e elemento de mais umas quantas agremiações) disse o que acima se transcreve em entrevista ao P(úblico).
Apenas destaco estas duas linhas para evidenciar a ignorância e a incompetência: Manchester não conheço mas, para bem dos meus pecados, posso dizer que em Barcelona, conforme os responsáveis se orgulham de dizer, o esforço foi e mantém-se no sentido de assegurar uma cidade plural, em contínua renovação mas sempre inclusiva. Por outro lado, considerar que uma cidade é viva apenas porque os edifícios são reabilitados e ocupados por pessoas, revela bem a medida pequenez da visão que esta gente tem do que é a urbe. Finalmente, defender o que é dito e achar que isso é compatível com o respeito pelas "características de quem lá está e de quem venha de fora" é, no mínimo, paradoxal.