De: Cristina Santos - "Cegueira dos adeptos - falência dos clubes"
De forma generalizada, os portugueses vêem o futebol e a política como uma espécie de família, onde não se avaliam os resultados mas sim os laços, a fidelidade, a camisola. No futebol não é grave, na política o clubismo destrói o estado de direito que assegura a Democracia.
É corrente ouvir pessoas afirmarem que são socialistas há 20 anos, ou que são sociais-democratas, ou comunistas desde que se conhecem. Para os adeptos dos clubes partidários, os «seus clubes» não são corruptos, não estão a prejudicar o país mesmo quando a situação é evidente e inegável. Pois a culpa de muita coisa que acontece ao Norte é cegueira partidária, se não fosse isso há muito que as coisas tinham mudado.
Doeu no peito a todos os portuenses a decisão da Liga, mas talvez isto sirva para aqueles que cegamente e só porque desde Abril votam PS ou PSD, compreendam que muitas vezes quem está à frente da camisola que defendemos não partilha minimamente dos interesses do grupo, ou que nós já não fazemos parte do grupo de interesses. Talvez isto sirva para que os cegos partidários afiram que quando há sintomas de que algo vai mal é preciso desconfiar e pôr rédeas, antes que aconteça ao Norte todo o que aconteceu ao Boavista, ao Salgueiros. Não é preciso muito, é só deixar de ser fanático e avaliar as situações com racionalidade, se o partido fosse uma família, nós não os colocávamos em tão altos cargos, para altos cargos exige-se competência e não sentimentalismo.
Enquanto formos votar pelo clube que já era o clube dos nossos pais, enquanto aplaudirmos os líderes do nosso clube pela camisola que vestem, enquanto mantivermos esta postura de fidelidade e disponibilidade, Portugal não avança. Portugal já não é uma unidade familiar gerida a pulso, com escolinhas brancas e meninos fardados, é um país Europeu que necessita de pessoas racionais capazes de decidir por si só e não de acordo com clubes, com grupos, todos dentro de camionetas a afoutar aquilo que não conhecem. Grupos, clubes, isso acabou, agora o que conta é o pensamento e a decisão de cada um e essa deve prevalecer sobre qualquer partido.
Cristina Santos