De: JA Rio Fernandes - "(Des)Harmonia"
Alguém sabe onde está o IPPAR? Será que ainda existe?
Será que, se existe, serão os seus responsáveis, que se vão pronunciar sobre o (ainda publicamente inexistente) projecto para o Mercado do Bolhão, os mesmos que se terão pronunciado favoravelmente à destruição das Moagens Harmonia, permitindo que delas ficasse apenas as paredes exteriores de um imóvel perdido? Socorro!
Porque ou não se pronunciaram, o que me parece lamentável, ou o que fizeram é lamentável! Alguém faz o favor de investigar o que se passa com este negócio mal contado? Quanto ganhou o Estado (central ou local) com este negócio? Perdeu o usufruto do palácio (negociado por Fernando Gomes para ser a sede da Junta Metropolitana) e assiste agora à destruição de um imóvel formidável da arquitectura industrial do século XIX, em troca de quê? Quartos de hotel? E quantos milhões? E não havia mais sítio para hotéis? Afinal, fez-se discussões de estudiosos, académicos e políticos sobre um projecto de Fernando Távora, para quê? Para se perder tudo: a unidade barroca que ele defendia, com a transferência das Moagens Harmonia para o Parque Oriental, assim a convivência directa entre dois imóveis emblemáticos que eu como a maioria defendemos. Nem uma coisa, nem outra, afinal, vamos ter um hotel entre o palácio e as paredes de uma fábrica desaparecida, com o seu fabuloso interior com chão e tecto de riga (madeira proveniente da cidade de Riga, mesmo!)
Se o IPPAR não existe e não protege os monumentos nacionais (Palácio do Freixo) e a sua envolvente, serve para quê? Para deixar desaparecer o jardim da Cordoaria, a Avenida, o Bolhão? Feche-se o IPPAR, vivam as empresas, o mercado que vai criar emprego (lembrem-se só dos postos de trabalho de quem faz camas ou serve nos bares da pousada do Grupo Pestana, da Madeira).
Quando a cidade perdeu uma das peças mais importantes da sua memória de há cem anos, a Avenida dos Aliados (sim, com canteiros e calcário com basalto), pensei que pudesse ser engano, esquecimento, desvalorização à hora de apreciar algo que não era edifício, temor dos autores do star-system, ou o resultado de pressões várias depois de episódios de lamentável aproveitamento político em torno do Túnel de Ceuta. Ou tudo isto misturado! Mas não, afinal parece que o conceito de património e de preservação, para o nosso Instituto do Património, se circunscreve à fachada e, portanto, desde que não se construa em cima da Avenida dos Aliados e se mantenham as paredes das Moagens Harmonia, como mais tarde as do Mercado do Bolhão, está tudo bem. Socorro!