De: Sónia Rocha - "Direito ao descanso enquanto residente"

Submetido por taf em Quinta, 2008-05-08 15:44

"From: Sónia Rocha
Date: 2008/5/7
Subject: Direito ao descanso enquanto residente
To: gabinete.municipe@cm-porto.pt, geral@cm-porto.pt, geral@portolazer.pt

Exmos Srs.,

Escrevo-vos a estas horas não porque não tenha sono ou nada de mais interessante para fazer mas porque estou capaz de matar alguém pelo facto de se autorizar a realização de festas universitárias em plena praça pública durante a semana de trabalho até horas como estas (são 1:40 da madrugada). A vivência de uma cidade e do seu centro não tem que passar por autorizações destas que satisfaçam uma franja da população que, apesar de já ser votante e interessar agradar, bem pode exprimir a sua juventude em recintos fechados e próprios para este efeito, como acontece por exemplo em Braga onde também fui estudante universitária.

Os meus pais sempre me ensinaram que a minha liberdade acaba quando surge a dos outros, e obviamente deve encontrar-se um equilíbrio e consenso entre todas. Não é suficiente uma tarde inteira a entupir o trânsito da cidade? É necessário também que se esteja a estas horas com música demasiado alto que não deixe dormir os residentes e contribuintes do município? Há uma buzina de camião a ser tocada insistentemente, haja paciência.

Sou eu que pago os impostos municipais e nem direito a lavagem das ruas tenho. Sou eu que para deixar as minhas duas filhas no infantário da R. Álvares Cabral sou constantemente multada, já não basta ter que pagar garagem onde deixar os dois carros em frente a casa, também tenho que alugar uma em frente à escola delas pelos 10 minutos que demoro a deixá-las ou recolhê-las? E estes senhores que cá vêm uma vez por ano têm direito de me retirar o direito ao descanso? A minha filha de 3 anos já se levantou pelo menos três vezes porque também não consegue dormir e chora com o susto provocado pelos gritos dos transeuntes que consomem nestas noites a R. do Almada. Mas fui eu que investi o dinheiro, fui eu que comprei uma casa velha e a recuperei, para que não houvesse mais uma fachada com vidros partidos e sem luz nesta rua, mas qual o retorno do meu investimento? Multas, ruas sujas e mal cheirosas e falta de descanso... vale a pena viver na Baixa?

Uma mãe, trabalhadora, residente e estudante de mestrado à noite que gostaria de poder descansar.

Agradeço que considerem a minha reclamação e que se lembrem que a Baixa não está tão deserta e que apesar do que se diz por aí não vivem cá apenas velhos, pobres, desocupados ou info-excluídos, vive gente que trabalha e que conhece a lei do ruído e as suas possíveis excepções, por favor haja bom-senso... olhem parece que o meu telefonema para a PSP resultou, o barulho parou, vou aproveitar para descansar.

Boa noite e obrigada pela atenção.

Gosto de reclamar pois acredito que alguém vá ler e reflicta nisto, o mais importante de uma cidade não é ser bonita e atraente para os turistas, mas sim ter gente que queira viver nela, se não houver condições está condenada a ficar vazia ou com os que não têm dinheiro para ter outras opções...

Sónia Rocha
R. do Almada.
Porto"