De: António Alves - "Do Porto"
Caro Miguel Alves
Tem razão em muito do que diz mas faz uma confusão: confunde o município de Lisboa com a ‘Lisboa’ a que normalmente nos referimos. Lisboa não se limita ao seu município central, tal como também o Porto, e todos nós o sabemos muito bem. Todos sabemos que os anacrónicos limites municipais já não reflectem a realidade socioeconómica há décadas. Lisboa, tal como o Porto, são hoje cidades região com mais de 2 milhões de habitantes. E é disso que falamos. E é também indesmentível que a cidade região Lisboa tem sido, também há décadas, claramente beneficiada no que concerne a investimento por parte do Estado Central. Só por ignorância ou má fé se poderá sustentar o contrário.
Há quem em Lisboa sonhe com uma mega região, com 5 milhões de habitantes, para poder ‘competir’ com as outras grandes cidades europeias. Todos sabemos que com uma população em decréscimo como a portuguesa esse objectivo só poderá ser concretizado desertificando e arruinando o resto do país. Obviamente, também não é líquido que os lisboetas ganhem alguma coisa com isso. É que o PIB não mede tudo, e às vezes nem sequer a riqueza económica real.
Tem toda a razão também quando afirma que a Norte só se ouve o Rui Moreira a manifestar-se contra as megalomanias da ‘megalisboa’. Infelizmente, no que respeita a políticos e representantes eleitos pelo Norte isso é verdade. Compete-nos a nós correr com eles e se calhar eleger Rui Moreira e outros como ele. Quanto ao Estado Central acrescento-lhe pelo menos mais duas funções: Segurança Social única (sem limitar a capacidade dos cidadãos construírem sistemas complementares independentes), na esteira das já clássicas recomendações do Relatório Beveridge, tal como o Serviço Nacional de Saúde. Mas apelar à municipalização não me parece a solução. Seria de todo inviável. Já não estamos na Idade Média. A solução só pode ser uma rede supra municipal que inclua cidades que se complementam e os seus hinterlands. A minha é a autonomia regional já experimentada tanto na Madeira como nos Açores.
Parece-me que há uma confusão quanto à minha referência ao “1 milhão de habitantes”. É apenas um comentário irónico ao facto de Hélder Sousa afirmar que em Lisboa havia pelo menos mais do dobro dos dois milhões do Porto e como tal dar “para aí dois Movimentos Autonomistas”. Foi ele que viu um milhão a mais em Lisboa e não eu. :-)
Só mais uma coisa: a cidade de Lisboa – e aqui refiro-me ao município central - pode até dispensar a Câmara. Só para não recuar mais no tempo lembro-lhe a empresa pública recentemente criada pelo Governo para gerir a requalificação da margem ribeirinha que vai ser dirigida por um advogado que em tempos afirmou que o Estado devia recorrer sempre a um conjunto de escritórios de advogados previamente seleccionados, entre os quais, obviamente, se incluiria o dele. São as velhas oligarquias centralistas em todo o seu esplendor.
Os meus melhores cumprimentos e seja sempre bem-vindo à discussão.