De: Hélder Sousa - "A racionalidade económica!"

Submetido por taf em Quarta, 2008-04-30 18:17

Caro Tiago

Belo dia de meia estação! Tarde mas com convicção venho dar os PARABÉNS pelo aniversário do blogue.

Entretanto estava a pensar que a racionalidade económica que faz com que filmes estreiem em Lisboa e não no Porto é a mesma que faz com que se ofereça um teatro para que a iniciativa privada o transforme em danceteria, por falta de verbas para investimento em cultura.

Infelizmente não é só o Blade Runner. Mais de metade da produção de filmes não-americanos que entra no circuito comercial português não passa no Porto nem no resto do País. Passa apenas em Lisboa. Porquê? Porque quem distribui e apresenta os filmes percebe uma coisa fundamental: não adianta ter dois milhões de potenciais espectadores (que são mais do que muitos países, mas também são menos do que muitos outros… que raio de argumento!), é preciso ter alguns milhares de espectadores com hábitos para ver filmes, teatro, dança e música. E em Lisboa – esse grande monstro que atrai milhões de euros de investimento e que por acaso até é uma metrópole interessante e cosmopolita à escala europeia – existem teatros privados (comerciais ou não) e teatros municipais que apresentam espectáculos variados (e não de variedades!) regularmente, há outros espaços privados onde se vêem filmes e espectáculos de teatro, há pequenas associações de produção que são financiadas para produzirem, imagine-se!, arte e há ainda investimento público em festivais de cinema, teatro, dança…

Porque é que lá há e aqui não? Porque é que cá já houve e agora não? Porque aqui vai haver hotéis de luxo e há Red Bull. Há um lago no meio da sala de visitas, há carros antigos espalhados por aí, há uma série de recordes no livro do Guinness (uma árvore, uma largada de bolas, um terrorista perigoso, um energúmeno e um clube campeão), há tendas de farturas em cada esquina e não me lembro de mais nada assim de repente…

Era talvez útil perceber o que é que mudou nos últimos tempos nesta terra para nos tornarmos tão queixinhas, tão ressabiados, tão albertojoões, tão provincianos que até reparamos que temos mais habitantes do que Malta e nem sequer um país somos…

Chateia um bocadinho estar sempre a ouvir lamentos pelos investimentos feitos em Lisboa, e não ouvir lamentos pelos investimentos não feitos no Porto! Talvez seja a racionalidade económica do investimento privado, consequência deste moderno liberalismo (até me arrepio com estes termos que não fazem parte do meu léxico, mas como passo os dias a cruzar-me com eles às vezes arrisco aplicá-los!).

Apesar de tudo, nós somos quase 2 milhões - onde é que eles andam? – mas em Lisboa são mais do dobro! Isso dava para aí dois “Movimentos Autonomistas”.

Bom Primeiro de Maio!
Hélder Sousa

E que ganhe o Alberto João! Pelo menos a Baixa ficava animada com ele a passear por aí à cata de votos!
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Nota de TAF: pois, mas infelizmente para isso eu não vou contribuir... ;-)