De: José Silva - "Não bastam vagas de fundo para Menezes ganhar (o) Norte"
No dia 25 de Maio, quando LFM sair reforçado das eleições antecipadas, terá que mudar de estratégia se quiser ganhar as eleições de 2009. Terá que deixar de tentar agradar à oligarquias de Lisboa que mandam em Portugal, deixar de ser um Sócrates2 e terá que apresentar decididamente propostas muito mais credíveis aos olhos dos portugueses, sobretudo fora de Lisboa.
Detalhando. Todos já perceberam que Sócrates perderá em 2009, desde que haja alternativa ligeiramente melhor. A recessão em curso, que nem sequer ainda cá chegou, encarregar-se-á de dinamitar a credibilidade decrescente do «engenheiro». Mas perante isto e como seria normal, as oligarquias de Lisboa não querem LFM, por muito que ele vá morar para lá, contrate Cunhas Vazes ou alinhe em Neo-liberalismos de banha da cobra, como era a OTA. A oligarquia lisboeta, antevendo o fim de Sócrates, preparava-se para lançar António Borges como Primeiro-Ministro em 2009. JPPereira já o tinha afirmado aqui que LFM teria que sair da liderança até 2009 nem que fosse à «bomba»: Ora isto servirá de lição para LFM. A oligarquia dos golpes palaciano-mediáticos de Lisboa, que ceifaram PSLopes em 2004, nunca o tolerará. LFM tem que entender isto, mudar radicalmente, deixando de se preocupar em conquistar essas oligarquias.
Por outro lado, as propostas de LFM nos últimos 6 meses não foram substancialmente diferentes da política neo-liberal que o PS tem seguido. Por isso LFM não descolou nas sondagens. O Portugal profundo não sente nada de radicalmente diferente que o leve a votar no PSD em 2009. E portanto aqui, se LFM quer subir nas sondagens a partir de 25 de Maio, tem que apresentar uma política credível sobretudo para os eleitores fora de Lisboa, que não estão domesticados pela comunicação social pró-centralista, e que não são beneficiários da governação PS.
Como detecta JMMoreira, ao contrário do Liberalismo Clássico, o Neo-liberalismo é um embuste. Não é carne nem peixe. Apenas é um esquema para as altas oligarquias (subornando políticos, aproveitando-se da febre dirigista destes ou ambas) alargarem os seus negócios à custa de consumidores e contribuintes. Isto passa-se nos EUA e também em Portugal, como provam as PPPs, intenções por trás da OTA ou outras mafiosidades que habitualmente relato no Norteamos ou relata o José da GLQL. Ora este tipo de política precisa de ser clarificada. Eu que aceito o Capitalismo como modelo económico de sociedade tenho que reconhecer a necessidade que este tem de crescimento, de re-aplicação de capitais próprios em novos sectores e projectos, e portanto tenho que aceitar a necessidade da passagem de serviços públicos para a esfera privada, de forma sustentar esse crescimento. Para ser coerente, tenho que aceitar privatizações/PPP/concessões na educação, saúde, gestão de águas, manutenção de estradas ou até gestão de prisões. Porém isto não pode ser feito de forma dissimulada, nas costas do povo, às escondidas, como ocorre no Neo-liberalismo corrente, desde as concessões à Rio, até construção de um TGV exageradamente sofisticado para as nossas necessidades de forma a gerar carteira de encomendas para os operadores do sector.
Assim, LFM tem aqui uma oportunidade de ser verdadeiramente, frontalmente e honestamente Liberal ao propor uma política de privatizações/concessões/PPP às claras desejavelmente referendada pelo povo. E os novos «capitalistas» nem teriam que ser necessariamente as «máfias» habituais. Poderiam ser os próprios cidadãos investido directamente, ou via fundos de investimento, nos serviços públicos a privatizar, escola, hospital, auto-estrada, aeroporto. Haveria também a alternativa social-democrata, mais à esquerda, de suspender a passagem de serviços públicos para privados, aconteça o que acontecer. Ou poderia haver um misto, com alguns sectores a ficarem claramente públicos. Há ainda outra oportunidade de inovação nos investimentos públicos: seguir a linha de pensamento do Norteamos, investir com racionalidade, maximizando as infraestruturas existentes, minimizando a verba gasta, como seja a manutenção da Portela ou o upgrade da Linha do Douro em alternativa à ligação Aveiro-Salamanca. Portanto LFM ao mudar a forma de fazer política, sendo mais claro e respeitador dos impostos dos contribuintes e das margens pagas pelos consumidores, iria ter muito mais credibilidade do que a governação actual. Seria verdadeiramente Liberal e não um mafioso Neo-liberal, como é a actual governação Sócrates. Neste aspecto a forma conta muito.
O nosso Neo-liberalismo, ou seja, a ajuda disfarçada do Estado Central às oligarquias dominantes, tem em Portugal uma agravante. É que elas estão estatisticamente concentradas na região de Lisboa, beneficiando apenas os seus residentes. Já aqui exemplifiquei que enquanto a economia do Norte é de milhares de PMEs que actuam em sectores de bens e serviços transaccionáveis no mercado internacional, sendo raramente fornecedores do Estado, a economia de Lisboa é, estatisticamente, baseada na administração pública, delegações de multinacionais geradoras de importações e grandes grupos que vivem para o mercado interno, à sombra do mesmo Estado. O eleitorado de Lisboa vai estando satisfeito como o modelo de desenvolvimento porque vai sendo sucessivamente beneficiado, via maiores oportunidades de emprego, salários, serviços públicos e valorização de imóveis. Por isso votará PS, com base nas promessas de Alcochetes, travessias do Tejo, gestão centralizada do QREN, dupla ética habitual e outras Mega-Lisboatices dirigidas pelo Estado Central. Assim, o esforço necessário para convencer estes eleitores a votar PSD é muito grande. Para LFM é preferível apostar em todos os deserdados do status-quo centralista, apresentando políticas de efectiva «deslisboetização» da economia portuguesa. Continuando a ser liberal e não centralista à Estaline ou colonialista, LFM deveria era colocar as várias regiões em competição, dando-lhes poder para se auto-desenvolverem, transferindo administração pública para o resto de Portugal, como prometeu Santana Lopes ou como já apresentei aqui. A competição inter-regiões, dotando as administrações públicas regionais de poderes de coordenação do desenvolvimento económico, iria parar com a «Drenagem» e a prazo gerar crescimento económico e emprego. Ora estas medidas, na prática, representariam uma promessa de poder para fora de Lisboa, onde a propensão dos eleitores para votar LFM é maior e onde tem as suas bases de apoio, à custa da subtracção de poder de Lisboa, onde dificilmente LFM ganhará votos. Na prática fazer promessas (e cumprir) aos eleitores com maior probabilidade de votarem PSD, à custa dos benefícios dos eleitores do PS. Grosso modo, 8 milhões de portugueses a votar no PSD seriam superiores a 2 milhões de lisboetas e afins a votarem no PS.
O Norte tem que perceber o que está em jogo. LFM, assim como foi Fernando Nogueira em 1995 e Santana Lopes em 2004, representam uma ala do PSD que não alinha com as oligarquias dominantes da capital. Em ambos os episódios a comunicação social centralista foi determinante para manipular os eleitores para votarem em Guterres e Sócrates, dado que seria um mal menor, na óptica das citadas oligarquias. Em 1995 ainda me enganaram. Em 2005 votei pela primeira vez à direita do PS, precisamente em PSLopes. O Norte também foi enganado/manipulado em 1998 no referendo da Regionalização, aliás onde LFM ou Rui Moreira nos «trairam». Assim é crítico que haja por parte dos residentes a Norte, de uma vez por todas, uma correcta compreensão do que é que está em jogo neste momento e coloquemos de lado as nossas opções ideológicas, simpatias pessoais ou mesmo «traições» e aproveitemos a oportunidade para chegar ao poder. Para isso é preciso pressionar LFM para ter uma política de desenvolvimento «deslisboetizada» e uma opção ideologicamente sadia, Liberal ou Social-Democrata, mas nunca Neo-liberal.
Espero que este artigo chegue a quem de direito. Com a decisão de ontem LFM mostrou que tem isto. Modéstia à parte, falta agora mostrar que tem inteligência e seguir os meus conselhos.