De: António Alves - "Discursos avariados"
Sempre que os políticos se deslocam ao Porto aos magotes, é costume os discursos tecerem elevadas loas ao carácter desta cidade e realçar a sua suposta importância na identidade nacional. Entre as costumeiras citações de passagens literárias elogiosas para com a cidade, aparecem sempre os epítetos de "capital moral", "capital telúrica", "cidade que resiste", "exemplo de ambição", etc. Em suma, todos estes discursos contribuem para alargar aquele que se convencionou ser o campo de estudo da ciência política: estudar o que a política na realidade faz e não o que ela diz que faz. E a acção política do actual presidente da república é um exemplo paradigmático desta "política": ele que é um dos principais responsáveis pela concentração, que nas duas últimas décadas teve lugar em Lisboa, não tem vergonha nenhuma em vir cá passar-nos manteiga no lombo.
Ainda não há muitos dias Cavaco Silva produziu a seguinte pérola: «a centralização em Portugal prova que é um país com uma forte unidade que não tem problemas linguísticos, étnicos ou religiosos».
Ainda há muitos que se deixam enganar com estes discursos. Para outros, felizmente cada vez mais, não passam de discursos avariados, tal como o tanque que rebentou em pleno desfile.
António Alves