De: Alexandre Burmester - "Edifício Douro"

Submetido por taf em Sexta, 2008-03-28 14:04

BREVE HISTORIAL

"...situado no Largo de S. Domingos, e em parte do antigo convento do mesmo nome. O edifício de aspecto pesado mas distinto, com sua majesto­sa frontaria de granito, ocupa, olhando ao norte, toda a frente do regular quarteirão formado pelas ruas de S. Domin­gos e de Ferreira Borges. A sua Arquitectura, tanto exterior como interior, é agradável. A sua situação, olhada pelo lado da conveniência pública, é excelente: a pouca distância da alfândega, do rio, da Bolsa do Porto, dos Tribunais, e no centro da parte comercial da cidade,..."

Esta descrição com cerca de um século, e com algumas altera­ções, ainda é perfeitamente actual, e era assim que em 1890 Ferreira Barbosa se referia ao Edifício, então na posse da Caixa Filial do Banco de Portugal.

Porém para que se situe a sua História, há que recuar cerca de 8 séculos. Mais precisamente ao ano de 1237, altura em que dois religiosos da ordem de S. Domingos, Frei Gualter e Frei Domingos Gallego tomaram posse da "Igreja e cerca prome­tidas" e iniciaram a construção do Mosteiro. Assim reza a Crónica de Frei Luíz de Sousa. (Conta ainda esta crónica que essa primeira igreja, oferecida pelo Bispo do Porto D. Pedro, tinha "uma escadaria muito íngreme e de muitos degraus". Faz-se aqui esta referência, porque é possivelmente uma razão simbólica que dá origem à actual escadaria do edifício que estranhamente e contrário ao habitual é algo exagerada.

Estendia-se este Mosteiro desde o actual Largo de S. Domingos para sul, até à cercania da Ordem de S. Francisco. Desta última resta ainda a sua Igreja, uma vez que o Mosteiro deu lugar ao Palácio da Bolsa. Rivalizaram durante séculos as duas Ordens vizinhas reclamando cada qual o estatuto de maior antiguidade na cidade.

O Prior do convento, D. Frei Pedro Esteves, mandou levantar um grande Alpendre, cobrindo o adro da Igreja. Serviu inicial­mente de recreio e praça ou casa de negócio, e posteriormen­te "por estar ao abrigo da chuva e do sol, e por ser ponto muito central da cidade, e haver nela falta sensível de edi­fícios para repartições públicas, serviu muitos anos de tri­bunal, e ali os juízes ouviam e despachavam as partes" sob o vão tomado pelo Alpendre, se levantou mais tarde a fachada norte e principal do convento.

Este Mosteiro foi em parte devorado por um incêndio em 1777, e durante o cerco do Porto, em 1832, outro incêndio ainda maior fez restar pouco mais que esta fachada a norte. Com a supressão das ordens religiosas em 1834, é este edifício e o vão restante, que era tomado pela cerca, igreja e casas dos frades, passado para a Fazenda, e alugado precisamente em 1 de Junho desse ano ao Banco de Portugal.

Parte desses terrenos são ainda cedidos para a abertura da Rua Ferreira Borges. O seu traçado foi defendido pelo Arqui­tecto Joaquim da Costa Lima Sampaio, em detrimento de outro que mutilava o edifício. Argumentava então que "Não sendo fácil encontrar-se na cidade quatro edifícios como esse".

O Banco de Portugal acabou por adquirir o imóvel, quando em 1865 foi posto em praça pelo governo. Fez em seguida obras importantes de reconversão interior, e algumas alterações de alçado, nomeadamente no friso superior e na arcada, onde se nota certa influência inglesa. Na mesma altura foi apeado o emblema da ordem que rematava a frente e apagada uma inscri­ção latina na frontaria que em vulgar dizia "Esta ordem fun­dou a expensas suas, em sagrado átrio, este edifício, notá­vel pelas maravilhas de Arte".

Após a mudança, não há muitos anos, do Banco de Portugal, pa­ra as actuais instalações na Av. dos Aliados. Foi este imóvel ocupado pela Companhia de Seguros Douro. Mais uma vez foi o edifício objecto de alterações interiores e exteriores e novo emblema se colocou na sua frontaria. Reza sempre a História de memória curta, e esta cidade de pouco respeito e conhecimento pelo seu Património. Chama-se hoje o imóvel de Edifício Douro.

Encontrava-se o prédio devoluto, calmamente parecia aguardar a continuação da sua longa História. Agora parece que se transforma em Palácio das Artes.

Alexandre Burmester

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Nota de TAF: Blog Edifício Douro