De: Alexandre Burmester - "Edifício Douro"
BREVE HISTORIAL
"...situado no Largo de S. Domingos, e em parte do antigo convento do mesmo nome. O edifício de aspecto pesado mas distinto, com sua majestosa frontaria de granito, ocupa, olhando ao norte, toda a frente do regular quarteirão formado pelas ruas de S. Domingos e de Ferreira Borges. A sua Arquitectura, tanto exterior como interior, é agradável. A sua situação, olhada pelo lado da conveniência pública, é excelente: a pouca distância da alfândega, do rio, da Bolsa do Porto, dos Tribunais, e no centro da parte comercial da cidade,..."
Esta descrição com cerca de um século, e com algumas alterações, ainda é perfeitamente actual, e era assim que em 1890 Ferreira Barbosa se referia ao Edifício, então na posse da Caixa Filial do Banco de Portugal.
Porém para que se situe a sua História, há que recuar cerca de 8 séculos. Mais precisamente ao ano de 1237, altura em que dois religiosos da ordem de S. Domingos, Frei Gualter e Frei Domingos Gallego tomaram posse da "Igreja e cerca prometidas" e iniciaram a construção do Mosteiro. Assim reza a Crónica de Frei Luíz de Sousa. (Conta ainda esta crónica que essa primeira igreja, oferecida pelo Bispo do Porto D. Pedro, tinha "uma escadaria muito íngreme e de muitos degraus". Faz-se aqui esta referência, porque é possivelmente uma razão simbólica que dá origem à actual escadaria do edifício que estranhamente e contrário ao habitual é algo exagerada.
Estendia-se este Mosteiro desde o actual Largo de S. Domingos para sul, até à cercania da Ordem de S. Francisco. Desta última resta ainda a sua Igreja, uma vez que o Mosteiro deu lugar ao Palácio da Bolsa. Rivalizaram durante séculos as duas Ordens vizinhas reclamando cada qual o estatuto de maior antiguidade na cidade.
O Prior do convento, D. Frei Pedro Esteves, mandou levantar um grande Alpendre, cobrindo o adro da Igreja. Serviu inicialmente de recreio e praça ou casa de negócio, e posteriormente "por estar ao abrigo da chuva e do sol, e por ser ponto muito central da cidade, e haver nela falta sensível de edifícios para repartições públicas, serviu muitos anos de tribunal, e ali os juízes ouviam e despachavam as partes" sob o vão tomado pelo Alpendre, se levantou mais tarde a fachada norte e principal do convento.
Este Mosteiro foi em parte devorado por um incêndio em 1777, e durante o cerco do Porto, em 1832, outro incêndio ainda maior fez restar pouco mais que esta fachada a norte. Com a supressão das ordens religiosas em 1834, é este edifício e o vão restante, que era tomado pela cerca, igreja e casas dos frades, passado para a Fazenda, e alugado precisamente em 1 de Junho desse ano ao Banco de Portugal.
Parte desses terrenos são ainda cedidos para a abertura da Rua Ferreira Borges. O seu traçado foi defendido pelo Arquitecto Joaquim da Costa Lima Sampaio, em detrimento de outro que mutilava o edifício. Argumentava então que "Não sendo fácil encontrar-se na cidade quatro edifícios como esse".
O Banco de Portugal acabou por adquirir o imóvel, quando em 1865 foi posto em praça pelo governo. Fez em seguida obras importantes de reconversão interior, e algumas alterações de alçado, nomeadamente no friso superior e na arcada, onde se nota certa influência inglesa. Na mesma altura foi apeado o emblema da ordem que rematava a frente e apagada uma inscrição latina na frontaria que em vulgar dizia "Esta ordem fundou a expensas suas, em sagrado átrio, este edifício, notável pelas maravilhas de Arte".
Após a mudança, não há muitos anos, do Banco de Portugal, para as actuais instalações na Av. dos Aliados. Foi este imóvel ocupado pela Companhia de Seguros Douro. Mais uma vez foi o edifício objecto de alterações interiores e exteriores e novo emblema se colocou na sua frontaria. Reza sempre a História de memória curta, e esta cidade de pouco respeito e conhecimento pelo seu Património. Chama-se hoje o imóvel de Edifício Douro.
Encontrava-se o prédio devoluto, calmamente parecia aguardar a continuação da sua longa História. Agora parece que se transforma em Palácio das Artes.
Alexandre Burmester
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Nota de TAF: Blog Edifício Douro