De: José Silva - "Faz sentido contestar as novas portagens à volta do Porto?"
«Como na generalidade dos países menos desenvolvidos, em Portugal continua a dar-se uma importância desproporcionada aos elementos materiais, enquanto elementos simbólicos do desenvolvimento, da riqueza e do estatuto social. Muitos dos que criticam, a governos e autarcas a cultura do cimento fazem-no enquanto ostentam os seus belíssimos e, sobretudo, caros relógios de marcas ou os não menos luxuosos automóveis. Quando se fazia a avaliação da aplicação dos chamados "fundos estruturais", a maioria das verbas era canalizada, no caso das empresas, para instalações, maquinaria e equipamento, até haver uma intervenção administrativa que limitou a sua disponibilidade. Não há povoação que se preze que não tenha um pavilhão multiusos ou, mesmo, um centro de exposições e congressos. E quando o paradigma mudou, e a retórica do empreendedorismo se instalou, eis que correm pressurosas a construir incubadoras e centros empresariais. A continuarmos assim, não tardará que se reproduza neste domínio o que acontecia com equipamentos desportivos uma das maiores taxas de construção de recintos cobertos da Europa, o que se compreende perfeitamente dada a agressividade do nosso clima… O problema não está, sequer, na construção mas no que se segue: as despesas de manutenção e funcionamento.» Ora, é aqui que o problema existe. Os custos da criação de auto-estradas sobre os «impostados». Fará então sentido contestar a decisão do governo em criar portagens à volta do Porto (A28, A41 e IC1)? Sim e Não. Depende!
Contextualizemos ainda mais:
- - Sugiro a audição prévia da intervenção de Pedro Morgado no RCMinho ou lendo os posts recentes no Avenida Central;
- - Portugal já tem uma densidade de auto-estradas superior à média europeia;
- - A A3 a norte de Braga está sub-utilizada, segundo Matos Fernandes, da administração do Porto de Leixões e especialista em Transportes;
- - Os efeitos do PeakOil começam a fazer-se sentir a Norte. No final do ano, quando o BCE descer as taxas de juro, o Euro desvalorizará face ao Dólar e o petróleo em euros começará a subir ainda mais. Relembro que metade do petróleo importado é usado no transporte rodoviário. As importações fazem reduzir o PIB e portanto a riqueza individual... Para redução do PIB, já basta a recessão em curso...
- - A construção da A4 entre Amarante e Bragança está a gerar muitos interessados. A A4 é um erro histórico. Mal seja finalizada a sua construção, ficará às moscas. O melhor que TM poderia fazer, se os lobbies de Lisboa o permitissem, seria transformar em autoestrada apenas os troços do IP4 com maior tráfego ou inseguros. Os restantes ficariam inalterados. Com a poupança obtida, investir-se-ia em infraestruturas com mais futuro, como seja o upgrade da linha do Douro, da linha do Tua até Sanabria ou no upgrade do aeródromo de Bragança para «low costs»; Espanha vai reabrir a ligação a ferroviária até Barca D’Alva até 2010. Recuperar para passageiros os 28km desde Pocinho até Barca D’Alva, segundo a Refer, custa 11 milhões de euros, ou seja o equivalente a 2 km de auto-estrada...
- - As SCUTS são excelentes PPP para o lobby betoneiro e bancário, quando o crédito é barato. Esse tempo acabou. A Brisa está com sérias dificuldades, como se pode ler aqui. Haverá SCUTs se a Brisa falir? Nacionalizando-se, sim. Mas quem pagará o acréscimo de impostos?
Resumindo: Apenas vale a pena contestar se for para reclamar contra as injustiças. A mediatização deverá ser no sentido de obrigar a «portajar» também as vias em situação semelhante como o caso da Via do Infante. São necessários estudos! O único motivo é evitar que que a falta de critério da aplicação de portagens prejudique, como é habitual, o Norte.
Mas há um assunto ainda mais importante. É que a reclamação/protesto tem que ser credível sem cair em populismo demagógico nortenho. O segredo da assertividade perante Lisboa é ser intelectualmente honesto e sério. A nossa comunicação social, nomeadamente do JN pós-Joaquim Oliveira tem que ser sensata. O Norte não pode passar de um extremo em que era tabu ou se tinha vergonha de defender os nossos legítimos interesses para um cenário de irresponsabilidade infantil onde se defende tudo o que tenha carimbo «Norte», mesmo o que esteja errado. E exemplos disto é o elogio desmedido à arquitectura do Aeroporto Sá Carneiro sem calcular os respectivos custos que atormentam agora Belmiro, as expansões surreais do Metro do Porto que custariam meia-Ota ou os faraónicos e secretos custos que o CVE Porto-Minho-Vigo vai ter se parar no centro de Braga («RAVE preveja um túnel urbano em Braga, coisas no "segredo dos Deuses"»).
José Silva - Norteamos