De: Cristina Santos - "A força da elite cultural"
A classe da cultura e do entretenimento tem demonstrado uma capacidade de mobilização e representação humana excepcional. Nunca imaginei que tivessem tal força ou representatividade. Na verdade, ao longo destes anos, pouco liguei aos seus espectáculos, performances e coisas que tal. Os portuenses de um modo geral também lhe prestaram atenção insuficiente, o Rivoli dava prejuízo e os cartazes de entretenimento pouca gente atraíam. O que me leva a concluir que, se as forças que os artistas empenham agora para protestar tivessem sido canalizadas para criar uma cultura de vanguarda, original e criteriosa, o Porto seria hoje um expoente máximo na arte cultural.
Esta força tem que ser sem dúvida aproveitada, mas e como? O que exigem os artistas dentro do razoável, para criarem na cidade esta mobilização que canalize todos para a cultura e não para o protesto? O que é que precisam da cidade e dos munícipes para se agregarem e desenvolverem esta atenção sobre eles, mas no panorama que lhes compete, que é desenvolver por meio do entretenimento?
Digam, exponham, dentro do razoável apresentem um projecto que seja tão mobilizante como os protestos que ultimamente encabeçam, a Cidade lucra e os artistas lucram também, negoceiem, exponham-se. A força desta elite é incontestável e tem que estar a nosso favor, não contra nós. Tem que se pensar neste assunto, são um grupo de força viva, Rui Rio vai ter que encontrar um ponto de equilíbrio justo, que os leva a lutar pela cidade.
Dentro do Rivoli ninguém ouvia estes artistas, talvez por eles próprios estarem acomodados. Cá fora ouvem-se bem, e têm força. Imaginem o que seria um destes seus espectáculos, criado para atrair atenção positiva para a Cidade, um movimento na Rua em defesa das nossas artes, um elogio ao Porto e à Cultura que no Porto se cria.