De: TAF - "A Solução"
Hoje apetece-me salvar o Mundo, mas como já é tarde e eu ainda tenho várias coisas mais prioritárias para fazer antes disso, agora só vou explicar como é que se salva o Porto.
Perguntava-se há pouco na Católica se as novas tecnologias e a centralização ameaçam os media regionais. Isso não interessa nada. Primeiro porque as "novas tecnologias" só são novas enquanto forem novas (a partir do momento em que estão ao alcance de toda a gente, isso já não acontece), segundo porque a centralização não está directamente relacionada com a existência de "media regionais" (e vice-versa), terceiro porque cada um de nós tem uma definição diferente de "media regionais". O problema é outro: quando é que os portuenses recuperam o orgulho no Porto, quando é que voltam a estar contentes com a sua cidade e a sua região.
Suspira-se por protagonistas. Faz-me lembrar aqueles que, depois de ouvirem Barack Obama proclamar "we are the ones we are looking for", vêm dizer: "era de alguém assim que nós precisávamos"... O que tem acontecido é que os candidatos a protagonistas locais, quando atingem alguma notoriedade e capacidade de influência, passam (legitimamente) a preocupar-se com problemas nacionais e desleixam os locais.
Ora é aí que reside a Solução: temos de abandonar a nossa comodidade e sacrificar-nos. Fora de brincadeira, temos mesmo de "empobrecer" ainda mais. Temos de reservar tudo o que conseguirmos poupar para investir forte e feio numa estratégia de "think global, act local". Temos de aceitar o facto de que, por causa disso, o Poder Central nos vai achar "paroquiais" e portanto nos vai dificultar ainda mais a participação nos processos de decisão e de partilha de recursos nacionais. Paciência. Vamos criar aqui as nossas empresas mesmo sabendo que não teremos o Poder Central como cliente. Vamos apostar em gerir bem as nossas autarquias mesmo deixando de fazer parte do grupo de "amigalhaços" do Poder Central. Vamos lançar aqui as nossas iniciativas de empreendedorismo social, mesmo que o Poder Central não simpatize com a ideia e nos penalize por causa disso.
Fazendo isso, ganharemos legitimidade e apoio popular local, que é fundamental para garantir mudanças sustentáveis. Veja-se uma prova, só aparentemente inesperada, de que o método funciona - Rui Rio. Rui Rio tem muitas qualidades, mas infelizmente muito mais defeitos que as suplantam largamente, e por isso é actualmente um medíocre Presidente da Câmara. Teve contudo a sensatez de perceber que a sua conquista do Poder Local era muito mais sólida que uma hipotética candidatura ao Poder Central: prefere o Porto à liderança do PSD. No Porto ganha eleições, conquista poder (que depois frequentemente ou não usa ou usa mal, mas é dele). Sigamos o exemplo, que neste caso é positivo: foquemos a nossa atenção no Norte, e não no país inteiro. Resolvamos os problemas locais, recorrendo abundantemente à sociedade civil. Fazendo isso, mais tarde ou mais cedo a região evolui - nessa altura será o Poder Central que quererá vir ter connosco. Significa isto que no Porto devemos todos ter ideias convergentes, que precisamos de agir sempre "em manada"? Não. Basta que cada um faça o que acha que deve ser feito. Mas que faça, juntando-se eventualmente a quem possua convicções semelhantes e lutando por elas.
Onde é que os media entram? A dois níveis: no debate entre as elites (sem conotação negativa) e na angariação de apoio popular. É aí que temos de investir, nas novas tecnologias e nas velhas, produzindo conteúdos de qualidade, usando o nosso tempo para pensar e para emitir opinião. Dá trabalho e fica caro. A vida é dura. Não precisamos, no entanto, de novas televisões, rádios ou jornais, os que existem chegam e sobram. Não nos agradam os conteúdos actuais? Se é a publicidade que sustenta os media, pois bem, compremos publicidade em programas que nos agradem, que nos promovam, que se centrem nos nossos problemas. Façamos lobbying como deve ser.
Eu começaria por escolher uma causa simbólica, que está muito mais ao alcance do que a Regionalização (seja lá ela qual for): a integração de Gaia no Porto. Se é conveniente ter algo concreto e bem visível que motive a população (ou parte dela), que congregue interesses, que traga benefícios claros, eis aqui uma boa opção. É um primeiro passo. Não adianta pensar muito no segundo se nem o primeiro está ainda dado.
Bom, chega que as minhas gatas estão aqui a pedir atenção, mimos, e provavelmente biscoitos.