De: Manuel Leitão - "O «projéctil» e respostas às questões de outrem"

Submetido por taf em Quinta, 2008-02-14 14:52

O post sobre o Bolhão do senhor Correia de Araújo suscita-me várias reflexões. Desde logo, permito-me esclarecer que a empresa que a CMP considerou ter ganho o concurso não tem projecto nenhum, apenas uma coisa chamada “programa”. Eu, aliás, trato-o por “projéctil”, tantas são as aldrabices que, quase diariamente, vemos serem proferidas pelos responsáveis que lá vão dizendo qualquer coisa para não estarem calados. Espero, aliás, que as mesmas se virem contra os próprios, como costuma acontecer com aquele verdadeiro projéctil, o boomerang. A última, de hoje mesmo, é a implantação de uma “disneylândia” de bolso no Bolhão (!). Entretanto, permito-me dar também resposta às questões levantadas por aquele colaborador do blog.

1) O Bolhão vai manter a traça original? Não, não vai, se avançar o “projéctil”. A traça não é só aquele insecto que rói as nossas ricas roupinhas ou livros. É todo o “traço” do edifício e não apenas a fachada.

2) A demolição do interior é necessária? Os “estudos” dos interessados em fazer negócios da China dizem que sim, mas a reflexão, mesmo a técnica, de gente preocupada com o património da sua terra, diz o contrário.

3) Está previsto estacionamento subterrâneo? Está e mal. O que é necessário para salvar a Baixa da morte não é mais tráfego automóvel individual mas, sim, pôr lá gente a morar.

4) É só o projecto da TramCroNe que contempla estacionamento subterrâneo? O meu não contempla. E o do senhor?

5) E quanto à fachada do edifício? É bom que se mantenha. Quanto às “pequenas habitações complementares nos torreões”, isso não faz falta. O que falta é habitação a sério, não pequena nem complementar, nos próprios edifícios de habitação devolutos ou em ruínas por toda a Baixa (à espera da passagem do rei Midas e perante o deixa andar da CMP…), muito particularmente à volta do Bolhão.

6) O que está previsto para os diferentes pisos? Já está esclarecido em 1), ou seja, o que der na veneta dizer conforme o dia.

7) Será mais um centro comercial na Baixa? Evidentemente. Quanto a não ser “puro e duro”, tanto se me dá, pois nem entendo essa classificação. Impuro e mole é que é bom?

8) Então o que se pretende? Comer-nos, aos portuenses, por lorpas. Ao contrário do que sugere, nos outros países europeus nunca se perdeu o hábito de ir ao mercado. Se duvida, fale com pessoas daí originárias e verá o que lhe dizem.

9) Um mercado à semelhança do londrino Covent Garden? O que aconteceu ao mercado original com este nome, nos anos 70, foi que passou para outro local, maior e mais desafogado, a cinco quilómetros de distância. Também cá aconteceu construir o Mercado do Bom Sucesso há mais de cinquenta anos (e veja-se como esta administração municipal, sem ideias para nada a não ser dar de bandeja o que a todos pertence, também se pretende ver livre dele…). Se querem fazer uma “disneylândia” de pacotilha, aproveitam a aberração que é o espaço poeirento e abandonado entre o Campo 24 de Agosto e Fernandes Tomás, a apenas centenas de metros de distância do Bolhão, que aí, pelo menos, tapariam aquele indecoroso buraco que ali está há dezenas de anos, perante a complacência da CMP. Mas só tem vergonha na cara quem a tem, não é?

10) E a polémica em torno deste projecto? Meu amigo, sempre houve e haverá quem queira cavalgar politicamente o que interessa aos cidadãos. Acha que por isso deveríamos deixar-nos de polémicas e “engolir” o que “outros” interessados políticos querem fazer passar por excelente opção? Pela sua rica saúde! Suponho que terá idade para já não ir nesse “andor”. Não vá por aí! Deixe que a discussão traga luz, que de trevas já tivemos cinquenta anos (que eu bem me lembro) e olhe que, mesmo assim, ninguém se atreveu a dar cabo do Bolhão…

Cumprimentos.
Manuel Leitão