De: David Afonso - "Feira do Livro"

Submetido por taf em Sábado, 2008-02-09 13:04

Praça da Liberdade

[Fonte da foto]


Tal como temia, a feira do livro deste ano vai ficar instalada nos Aliados em contentores. Será admissível que um certame destes com 78 anos de história se veja agora numa situação de homeless? Quanto a mim, não. O Palácio de Cristal já era acanhado pelo que se impunha uma nova alternativa, que estaria ali mesmo ao lado, nos jardins, e os Aliados acabam também por ser uma opção válida. Em todo o caso, há que pensar em alternativas futuras porque com a transformação do Rosa Mota num multiusos (e consequente privatização) a Feira do Livro corre o risco de perder em definitivo a casa onde habitou nos últimos anos.

Entretanto, insiste-se em atulhar com tralha a Avenida e Praça. Se um dos desígnios históricos da Câmara foi a erradicação das barracas, agora até parece que o desígnio é armar barraca na praça. Custa-me ver os Aliados transformado numa espécie de bidonville ao sabor das festividades de cada época. O local e o Porto mereceriam um pouco mais de respeitabilidade. A solução ideal seria a de se encomendar ao arquitecto Siza Vieira um projecto para equipamento amovível a ser utilizado nestas situações. Seria uma excelente oportunidade para o arquitecto dar alguma coerência à Praça, já que a ocupação que tem vindo a ser feita tem desvirtuado o espírito do seu projecto. Em suma, queria ver o Siza a desenhar umas barracas para os Aliados e acabar o que começou (se é que o trabalho de um arquitecto alguma vez tem um fim, sobretudo nos espaços públicos).

A edição 2008 da Feira do Livro do Porto tem a vantagem de estar desfasada alguns dias da Feira do Livro de Lisboa. Sempre achei que a sobreposição das datas era prejudicial ao Porto já que este acabava por ser visto como m evento de ordem local ou, na melhor das hipóteses, regional. Seria necessário mudar de estratégia para podermos competir pela atenção e disponibilidades dos autores, dos editores, dos livreiros, da comunicação social e, sobretudo, dos consumidores. E essa estratégia passa por seguir o exemplo de Braga e sair da sombra de Lisboa, adoptando um calendário alternativo. Por exemplo, em termos comerciais faria todo o sentido encostar a Feira do Livro ao período do Natal ou se a ideia fosse a de transformá-la num evento regional de expressão nacional e – porque não? – internacional, seria de a associar às festas da cidade, antecedendo o S. João, período do ano em que recebemos muitas visitas. Outra solução seria antecipar um mês a feira do Porto, assim o último dia da feira do Norte seria o primeiro da feira de Lisboa, pelo que as novidades editoriais seriam dadas a conhecer em primeira mão no Porto. Enfim, existirão decerto outras opções, todas elas válidas desde que permitam que a nossa feira deixe de ser uma extensão da feira do livro de Lisboa. Para terminar, uma última questão: Será do interesse do sector livreiro, do Porto e do consumidor que as feiras continuem a ser organizadas pela mesma entidade? Pois eu acho que não nos devemos contentar com uma versão pobre da Feira de Lisboa e para a APEL o Porto será sempre e apenas a outra feira. Se isto não é um beco…

PS: Uma turma do Filipa de Vilhena está a competir no "Concurso Cidades Criativas" com um trabalho sobre a Miguel Bombarda. Não deixem de consultar ambos os links. Há por aí sangue novo a pensar a cidade.

David Afonso
davidafonso @quintacidade.com