De: Pedro Bismarck - "O Bolhão?"
Sábado de manhã, fui ao Mercado. Para perceber determinadas coisas há que ir aos sítios, há que vê-los, compreendê-los. Quantas pessoas que por aí escrevem sobre o Bolhão foram lá nos últimos tempos? Meses? Anos? Talvez nem na Baixa vivam, raramente aqui vêm. É indiscutível que o Mercado perdeu muita da sua dinâmica, há mais concorrência, e sobretudo, vive menos gente pela Baixa. Mas ele subsiste quase implacavelmente, subsistem aqueles que aqui vêm. O incrível não é que ainda há pessoas que vão ao Bolhão, mas sim, que apesar do estado de abandono a que foi votado o edifício, continue afluir gente ao mercado. Isso é o incrível. E está cheio! Mas desenganem-se, não são apenas velhos, há gente nova (como eu, que por aqui vivem agora), há turistas de máquina fotográfica e de sorriso estampado, há gente carregada de sacos. Há flores, fruta, peixe (e tanta diversidade), carne, pão, bom pão, uma variedade de produtos regionais que em nenhum outro sítio do Porto existe. O mercado é um elogio aos sentidos, um lugar absolutamente único. Em quantos sítios da Europa temos ainda a oportunidade de deambular por uma estrutura desta dimensão, com esta vida, com esta oferta de produtos, de cores, de cheiros, de sons? Está tudo lá, enquadrado magnficamente pela arquitectura do Correia da Silva. Mesmo assim abandonado, apoiado por andaimes, mantém o seu semblante de grandeza e dignidade.
Não me venham é dizer que a solução para tudo são shoppings, três no mesmo km2, é demais. Aprendamos com os erros dos outros. Nos anos 80 e 90, muitos mercados foram fechados por essa Europa fora e substituídos por shoppings. O Les Halles em Paris, é um exemplo, de muitos, de um projecto falhado que hoje espera uma solução.
A solução do Bolhão já lá está! O que é o Bolhão senão um imenso mercado de produtos como se diz agora "biológicos", regionais, naturais, único. Ponha-se também comércio relacionado com produtos regionais e de artesanato (tantas feiras de artesanato que por aí se fazem), de vinhos (Vinho do Porto), de gourmet, pequenos restaurantes específicos com belas esplanadas lá dentro, de pequenas lojas vocacionadas para turistas. Manter essa aura específica e atraente do Bolhão mas dotá-lo de novas valências que atraiam um novo público é isso que o Mercado precisa. Transformá-lo em shopping pode ser a solução mais rentável directamente, mas imaginem as possibilidade que se perdem. Valerá a pena? Qualquer turista irá franzir o olho quando lhe disserem que o mercado vai ser um shopping, que vai ter uma cobertura, mais um piso intermédio, dois maravilhosos pisos de estacionamento (mais carros para a cidade) que o cheiro das especiarias e das flores que ainda subsiste pelo ar vai ser substituído pelo odor apetitoso de um hamburguer com batatas.
*Pedro Bismarck [opozine]
PS. Relativamente ao site da TramCrone. Quando se estuda arquitectura é-nos ensinado a ler nas imagens os conceitos, a compreender nas apresentações as ideias que estão por trás. O site da TCN (e aconselho talvez a ver outros sites de arquitectos e outras empresas para perceber a diferença) para além das questões de gosto, não mostra nada, não explica o projecto, apresenta três ideias banais, com umas imagens e uns esquemas que já serviram para mil um projectos. A questão é que a TCN promove empreendimentos novos para áreas periféricas e o Bolhão não é um projecto novo, é uma reabilitação. E isso é que preocupa, porque estamos bem no centro da cidade num edifício marco-indiferenciável da cidade e nao a construir o outlet de Grijó ou a Exponor XXI. E essa é a diferença fundamental.
Já agora ficam aqui também três fotos do mercado nesse último Sábado.