De: António Alves - "Direito a Decidir"
«Há muitos anos que se sabe que é fundamental ter presença policial para conter a escalada do pequeno delito, e mostrar que se está atento às pequenas transgressões que criam a sensação de impunidade que levam a que, anos depois, andem aos tiros no meio da rua na maior das calmas. O livro de Myron Magnet, o Paradigma Urbano, explica como se deve fazer. Todas as cidades do mundo que pretendem ficar mais seguras seguem as recomendações da experiência de Nova Iorque, que tem por base essa ideia e resultados mais do que demonstrados. Este problema não é só da Baixa, é de toda a cidade e de toda a área metropolitana. E aqui, como em tantas outras coisas, o espectáculo televisivo não resolve nada, só o trabalho prolongado e sistemático no terreno. Na Rua, onde se ganha ou perde a batalha da segurança.»
Mas há uma incontornável diferença entre Nova Iorque e outras cidades e o Porto: o sistema político americano. Nova Iorque é uma entidade com grande autonomia política, fiscal, orçamental e administrativa. Por cá a realidade não é sequer comparável. A Câmara é um anão político. As medidas sociopolíticas adoptadas em Nova Iorque não são possíveis de adoptar pelo Porto autonomamente. Qualquer medida neste campo necessita obrigatoriamente da autorização do sistema político central. Este, confiscado pelas oligarquias que medram em Lisboa, não me parece minimamente interessado no assunto. Só reagirá pontual e casuisticamente quando e se o alarme social e o chinfrim mediático poderem causar alguns danos inconvenientes. Abafado o granel volta rapidamente tudo ao mesmo. Aliás, a essas mesmas oligarquias nem sequer lhes interessa que o Porto e a sua região saiam da situação de crise socioeconómica em que se encontra mergulhado. Assim é mais facilmente afastada a concorrência. A crise do Porto está para durar. O sistema vai encarregar-se de a manter sempre no ponto certo - quente mas sem atingir o ponto de ebulição.
Ao Porto falta-lhe o Direito a Decidir. Falta-lhe a autonomia política que lhe possa proporcionar os meios para tal. Sem isso nada feito. Neste campo como nos outros. Muitos dirão que isto é conversa de "regionalista empedernido". Cá por mim podem continuar a ser ingénuos e a empobrecer. Mas depois não se queixem.