De: Nuno Quental - "A nova rede do Metro"
Boa tarde
Algumas impressões sobre a nova rede do metro. Antes de mais, e em desacordo com algumas opiniões, creio que pela primeira vez encontramos uma rede de metro com lógica e pensada para responder às necessidades do presente e não a hipotéticas possibilidades futuras - como são as teorias de "estruturação do território" à boleia do metro, como se nos pudéssemos dar ao luxo de investir milhões em zonas não consolidadas para ter composições vazias durante 5 ou 10 anos. O metro deve ajudar a consolidar a malha existente e nada mais. Aliás a cidade já cresceu em excesso, já se dispersou o suficiente, pelo que não há nenhuma vantagem (a qualquer nível) em incentivar esse crescimento físico.
Na rede de expansão do metro "só" figura uma linha politiqueira, que é a linha da Boavista - que o Dr. Rui Rio obstinadamente defende. A linha de Gondomar, apesar do seu traçado claramente contraproducente para os muitos que se deslocam diariamente de Gondomar para o Porto, já vinha de trás. Estamos portanto na presença de um trabalho técnico que tem garantias de qualidade, que resultou de análises à subsecção estatística de densidades populacionais e de emprego. Pela primeira vez há um interesse real em criar um metro eficaz.
Mas creio que a linha da Boavista devia ser alterada. Na nova rede aparecem na verdade duas linhas diferentes a passar lá, pelo que as frequências devem ser elevadas. Será que há procura para tanto? Ou mais uma vez estamos a falar do metro enquanto promotor de novos investimentos imobiliários? Bem melhor seria usar o corredor do Campo Alegre, aliás proposto também pelo Emídio Gardé e pelo José Pedro Tenreiro. Neste último caso a ideia de atravessamento do Parque da Cidade deve ser excluída à partida. Acho que ninguém concordaria com a demolição da Torre dos Clérigos para se fazer uma estação de metro; pois o Parque da Cidade é um equipamento fundamental da região e tem de ser encarado como um todo que não pode ser despedaçado por cruzamentos de linhas nem por estradas.
A minha proposta seria fazer passar o metro pela Av. do Brasil e de Montevideu, depois da Praça do Império (aproveitando para converter aquelas artérias em zonas pedonais e grande qualidade, permitindo apenas o tráfego logístico e de interesse público), retomando depois pelo viaduto actual sobre o Parque da Cidade tal como proposto no estudo do Paulo Pinho. Esta linha faria interface na Casa da Música e seguiria como previsto até S. Bento. Já a nova linha que vem de Gaia pela Ponte da Arrábida (que, foi explicado, apenas terá condições de ser construída uma vez que o IC24 esteja completo) poderia também fazer interface e terminar na Casa da Música.
Seria portanto uma pequena mudança mas poderosa em termos de procura e de serviço prestado aos estudantes do Pólo do Campo Alegre e de diversos bairros sociais que existem no corredor que descrevi (Pasteleira, ...).
Relativamente à questão de enterrar ou não o metro, penso que o metro deve circular à superfície sempre que fisicamente possível (mesmo que obrigando ao encerramento de ruas ao trânsito automóvel, numa análise que deve ser feita caso a caso mas de forma um tanto voluntarista) e desde que não comprometa as velocidades comerciais. Seria um grande erro continuar com metro a "passear" como no Hosp. de S. João ou em Matosinhos. Segundo os dados da empresa a velocidade comercial situa-se nos 26,7 km/h (a dos autocarros é 15,5 km/h). De acordo com J. Kenworthy e segundo a Millennium Cities Database for Sustainable Transport, a velocidade comercial do metro situa-se normalmente entre os 30 e os 37 km/h (média de 34 km/h). Os tempos de transporte são fundamentais para a escolha do modo de transporte pelos cidadãos, pelo que aumentar as velocidades é efectivamente um desafio para a nova rede.
Um abraço,
Nuno Quental