De: José Pedro Tenreiro - "Que futuro para o metro?"

Submetido por taf em Sexta, 2007-12-14 22:19

As recentes notícias sobre o estudo feito pela FEUP para a expansão da rede de metro inquietam-me e motivam-me para esta participação que há já algum tempo antevia.

Foi com alguma surpresa que tenho recebido desde há uma semana as notícias das novas linhas propostas para o metro, dada a semelhança destas propostas com umas propostas que lancei há mais de dois anos num trabalho académico para a Faculdade de Arquitectura (e que mando em anexo PDF com actualizações) onde também propunha, entre outras hipóteses, uma linha circular! Esta semelhança é, a meu ver, pura coincidência dado que entre as minhas propostas e estas agora apresentadas existem diferenças cruciais a nível de estratégia global.

Como eu já suspeitava à época e se vem a confirmar agora, a rede de metro não está a ser planeada como um todo. As linhas que estão a ser propostas desde então são simples remedeios para aliviar o tráfego intenso das linhas que atravessam o núcleo da cidade, não tendo qualquer tipo de articulação entre si. Primeiro propõe-se a linha da Boavista. Depois foi o Governo que propôs a substituição deste projecto pela extensão do “Ramal” de Matosinhos até ao Hospital de S. João. Agora não só coexistem as duas hipóteses como é proposta a dita linha circular.

Parece-me clara a inexistência de articulação de propostas, aparecendo o resultado da rede proposta como uma simples soma de remedeios e não como uma verdadeira rede pensada como um todo. Aliás, um planeamento deste modo parece-me ser mais dispendioso do que as propostas que fiz há já dois anos em que aproveito para actualizar.

Veja-se antes de mais o caso da linha proposta entre a Senhora da Hora e o Hospital de S. João, subterraneamente. Esta linha apresenta um traçado bastante semelhante ao da antiga EN208, à qual foram feitas entretanto vias variantes, das quais a mais importante é a Av. Xanana Gusmão, no Padrão da Légua. Estas vias têm perfeita capacidade de receber o metro à superfície e atravessam zonas ainda pouco consolidadas, sendo apenas a zona de atravessamento sob a Via Norte a que tem mais dificuldades de realização à superfície, dado que o restante percurso seria feito paralelamente à Linha de Leixões. Esta linha poderia ter ainda um prolongamento em túnel até Contumil (aproveitando parte da proposta da linha circular agora apresentada, emergindo na Alameda de Cartes, por onde seguiria à superfície até Gondomar ou mesmo S. Pedro da Cova.

Subterrânea deveria ser, como propus, uma linha na zona do Campo Alegre, com mais utentes previstos do que a da Boavista, e que em parte coincidia com o trajecto da linha circular agora proposta (entre o Campo Alegre e S. Bento). Parece-me aliás mais sensato fazer subterraneamente no centro da cidade (Baixa e Campo Alegre) e não em S. Mamede, o que seria um investimento muito mais rentável.

Por outro lado existe a proposta para a linha circular que aqui apresenta diversos problemas. Vejam-se os troços partilhados entre a Casa da Música e o Campo Alegre com a nova linha para Gaia e entre Campanhã e Contumil (num troço que prevejo futura sobrecarga) onde suponho difícil a convivência entre veículos comandados automaticamente e os normais.

Não compreendo também a desarticulação entre as linhas existentes e as novas, e mesmo entre as propostas mais antigas e as mais novas. É o caso da linha da Boavista, cuja sequência natural para ocidente é precisamente o troço Campo Alegre - S. Bento acima referido, o que justifica a substituição do projecto da Boavista pelo outro, e da linha Senhora da Hora - Hospital de S. João, desarticulada do ramal de Matosinhos, do qual devia ser prolongamento.

Deixo aqui, deste modo, as minhas propostas antigas que mantenho e às quais acrescento outras. Resta-me dizer que lamento profundamente que se tenha deixado em esquecimento a rede de eléctricos intermédia entre a de autocarros e a de metro que foi proposta há já 7 anos e que referi no meu trabalho. Embora os percursos para esta rede sejam questionáveis acho completamente pertinente a sua existência.

José Pedro Galhano Tenreiro