De: Rui Valente - "Ribeira do Porto II"

Submetido por taf em Quinta, 2006-06-01 22:15

Senhores Arquitectos,

Já fiz questão, noutra altura, de deixar bem vincada a minha opinião sobre a vossa actividade profissional e a falta que ela faz a um país como o nosso, tão flagelado no seu património urbanístico pelos "habilidosos" que impunemente continuam por aí, prolíferos e activos, a estragar o pouco que dele resta com obras de construção verdadeiramente aberrantes. Tenho mesmo uma simpatia muito grande pela vossa profissão, mais do que por muitas outras igualmente nobres, mas nem por isso considero que isso me deva inibir de vos criticar quando o entender. Ao expor aqui as minhas opiniões, também eu, estou sujeito a ser criticado por todos aqueles que com elas não simpatizam e a reacção de alguns dos participantes deste espaço, que suponho serem também arquitectos, são bem a prova disso.

Daí, não perceber totalmente esse unanimismo corporativo que induziu alguns de vós a sentirem-se tão escandalizados com a minha opinião e sobretudo com a do Tiago, apenas por considerarmos sensata a instalação de uma qualquer protecção na Ribeira do Porto.

Eu não sou arquitecto mas, modéstia à parte, penso ter algum sentido de estética e se a questão debatida tivesse apenas a ver com esse aspecto, também eu preferia deixar como está. Reparem que poderia ter dito o mesmo do Cais de Gaia e não disse, exactamente por ali o espaço entre as zonas de lazer e a margem do rio ser três ou quatro vezes mais amplo, permitindo maior liberdade de circulação às pessoas e consequentemente reduzindo bastante o risco de uma eventual queda no rio (de crianças por exemplo). E vão concordar, certamente, que a Ribeira do Porto é tudo menos espaçosa e em certas épocas do Ano, como no Verão e na noite de S. João, é completamente invadida de povo e de turistas. E não podemos continuar a cair na tentação um tanto ou quanto provinciana de justificar o que se faz cá dentro com o que se viu lá fora. As realidades locais e as características da nossa ribeira são diferentes das de Veneza e muito menos das de qualquer país nórdico. Temos que olhar para as nossas coisas com as suas próprias realidades e não com a realidade dos outros.

Numa altura em que continuam a sentir algumas dificuldades de afirmação profissional por laxismo pacóvio da parte das sucessivas entidades governamentais não vos parece prematuro algum excesso de vaidade? Isto não é simpático, mas é o mínimo esboço de sensatez que vos posso aconselhar.

Pedro Lessa diz: "que os utentes têm de saber comportar-se", mas a realidade é que nem sempre sabem. Se assim fosse, não eram necessários os passeios e os sinais de trânsito nas estradas. Não podemos confundir regras de prudência com ignorância cultural ou outra qualquer. Além disso, não se esqueçam que a incompetência não é apenas apanágio das outras profissões. Também há arquitectos incompetentes, com todo o respeito por aqueles que o não são.

Rui Valente