De: Hélder Sousa - "Coisas"
Cara Cristina
Juro que não é embirração, mas não percebo algumas coisas:
- 1. Quem é que ontem reclamou alguma coisa do Governo? A mim, que estive lá, pareceu-me que se reclamou bastante mais das autoridades locais do que do Governo, mas pode ter sido só uma má impressão minha…
- 2. Diga-me sinceramente se, nos últimos anos, notou alguma variação negativa do número de arrumadores nas ruas da cidade. É que é muito bonito falar de coisas que são praticamente impossíveis de medir, dizendo que diminuíram, aumentaram e o diabo a quatro, mas a verdade é que quem anda nas ruas todos os dias nunca viu, sentiu ou imaginou que esta treta de arrumar os arrumadores fosse a sério. E se alguém acha que os arrumadores diminuíram na cidade e sente essa mudança conscientemente (algum pensamento do género: ‘o meu arrumador favorito foi integrado no programa Porto Feliz’…) que me atire a primeira pedra. E se quer casos concretos, cara Cristina, não fale sequer da Praça da República porque pelo menos há dez anos que, todos os dias da semana, há pelo menos 15 toxicodependentes (ou em recuperação) nas imediações e não tem nada a ver com Porto Feliz, Infeliz ou a Arder. E sabe porquê? Porque há um CAT ali ao lado.
- 3. Também não percebo quais são as razões porque tanto insiste que todos estes problemas são do Governo e que o nosso tiranete até se tem esforçado… mas se calhar, como ontem se viu (e acredite que SE houve contestação naquela concentração de pessoas, não foi contra o Governo), gosta de pregar no deserto… faz bem, faz bem. Talvez um dia lhe reconheçam a persistência.
- 4. E depois, abomino o desprezo com que algumas pessoas, como a Cristina, se referem aos ARRUMADORES. Os arrumadores, toxicodependentes ou não, são cidadãos. Cidadãos do Porto até. E sabe – loucura das loucuras – até têm direito de voto e, dentro das possibilidades, liberdade de escolha. O que é uma coisa que deve fazer confusão a muita gente com muitos problemas por resolver! Os arrumadores, eleitores, cidadãos, pessoas, não estão de volta… eles vivem na cidade, são realidade e não uma coisa que existe para nos chatear, a nós que somos pessoas de bem e até queremos uma cidade com boa imagem…
- 5. Claro que a desculpa provinciana de que o Governo da nação é que tem culpa (e terá muitas com certeza) e que nós até temos um senhor que lhes faz frente (Alberto João Alberto João), já está gasta. Muito gasta. Mas continue Cristina, talvez o Sr. Teixeira se reforme e lhe deixe o lugar.
Mas claro, talvez seja melhor dizer mal do Governo e deixar que um qualquer ubu tome conta de nós. Faz-nos sentir poderosamente regionais. E que bonito que é termos uma árvore, termos aviões e carrinhos de choque, mas não termos uns míseros milhares de euros (sabe quanto é por acaso? Sabe quanto se gastou em circo e bananas por acaso?) para tirar esses tipos mal cheirosos da cidade e deitar as culpas para trás das costas…
A vida é fodida, desculpem-me o calão regional – apeteceu-me ser popular agora!