De: Elena Henriques - "Cornos das Alturas e o Lince"
Peço desculpa pela minha intromissão, mas este assunto deixa-me desconfortável; é que pode-se achar graça mas, na verdade, não tem piada nenhuma. De facto, quando se trabalha na conservação de espécies (animais ou vegetais), trabalha-se na conservação de um ambiente que suporta toda a vida - animais racionais incluídos.
Isto não implica que eu não concorde que as populações de zonas mais interiores do país, neste momento, teriam legitimidade para reclamar direito a desconto nos impostos porque, efectivamente, não têm a mesma qualidade de vida dos habitantes do litoral, que é como quem diz, não têm médicos, não há bancos (a CGD vai tendo agências, não sei até quando), querem retirar estações de correios, não apanham canais de televisão (por vezes a própria RTP - ora bolas, o canal público), as redes de telemóvel não garantem a cobertura, enfim, são mercados desinteressantes e esquecidos também, por quem não deveria funcionar pela lógica de mercado e lhes cobra os mesmos impostos que aos habitantes do litoral. Sim porque o problema abordado não é exclusivo de Cornos das Alturas, ou de duas ou três aldeias esquecidas. Mas, se se insiste na ideia de que o mercado é o melhor dos mecanismos reguladores e que o próprio Estado a ele se deve submeter, quem sou eu para contrariar, peço é que, pelo menos, se atente nestes efeitos e se deixem em paz linces, lobos ou ratos almiscarados que, em bom rigor, pouco têm a ver com isto - o que têm eles a ver com o facto das Optimus ou SICs acharem o mercado irrelevante? Ou o próprio Estado entender que os serviços ali não são rentáveis?
Porventura as preocupações com as espécies em risco são o único sinal de que a sociedade olha para aqueles bocados de território, com vantagens globais e não apenas para quem neles vive. Aliás convém não esquecer que a extinção de espécies pode traduzir-se em prejuizos bem comensuráveis em linguagem de mercado - é bom ter presente que, tantos anos depois da extinção dos dodós, se concluiu que uma ilha inteira está a enfrentar a desertificação em consequência da ausência dessas avezinhas.
Já agora, há um erro qualquer nos links porque o do lince vai dar ao Instituto do Vinho do Porto e o do Vinho do Porto reencaminha para a Baixa do Porto.
Cumprimentos a todos
Elena Henriques
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Nota de TAF: links corrigidos, as minhas desculpas.