De: F. Rocha Antunes - "Paulo Morais"
Cara Cristina
O tempo que já levamos de debate sobre o Porto permite que possamos comparar o comportamento de dois vereadores do Urbanismo e começar a escrutinar um terceiro.
Eu desconfio sempre das indignações fáceis e sou um céptico em relação a revoluções e manifestações exaltadas de toda a espécie. Sempre achei que os berros tinham muito mais de adaptação a uma nova situação do que verdadeira recusa da situação. Acredito em mudanças estruturais mas desconfio que essas mudanças são menos determinadas pelo voluntarismo de cada um do que pela força das circunstâncias que se vão alterando.
Se há uma coisa a que eu sou realmente alérgico é a moralistas. E o Dr. Paulo Morais está a comportar-se cada vez mais como um moralista. Há qualquer coisa de desígnio redentor no que tem dito que me deixa preocupado porque a questão que trata é grave e não ajuda nada ir por aí.
Li com atenção a entrevista que saiu hoje no Público (que por ser pago não permite o link directo aqui) onde, entre outras coisas, diz: “Só vale a pena exercer um cargo político neste regime se for para ajudar a destruir o próprio regime”
Só a apatia a que chegámos, de facto, permite que se diga isto sem consequências. Mas como nem todos estamos civicamente mortos, eu digo que o Dr Paulo Morais é um irresponsável a quem não deveria ter sido dada a oportunidade de ser vereador do Urbanismo do Porto. E cometeu o mesmo pecado que agora tanto critica: governou o pelouro do Urbanismo como se fosse coisa sua, chumbando ou aprovando conforme lhe parecia, sem envolver a cidade nas decisões eventualmente corajosas e arriscadas que tomou. E podia ter feito de forma diferente e ao invés retrocedeu no único caminho possível e que tinha sido começado a trilhar corajosamente pelo Arquitecto Ricardo Figueiredo: a discussão aberta e pública dos assuntos do urbanismo.
Este problema não é português, aconteceu em todas as democracias de tipo ocidental. E em todas se resolveu da mesma maneira com a abertura da gestão urbanística ao escrutínio dos cidadãos. A essência do problema é a forma escondida como são tomadas as decisões. E nisso o Dr. Paulo Morais representou um sério retrocesso, fechando a discussão pública do PDM e não iniciando nenhum processo de abertura. Convém lembrar que o processo dos Aliados é sobretudo um processo do tempo de Paulo Morais.
Por isso, minha cara Cristina, eu não fico apático quando alguém pretende aligeirar as suas responsabilidades enquanto vereador e vem acusar os políticos, de que foi exemplo recente, de serem irresponsáveis e corruptos. Também se pode prejudicar muito a cidade, sem meter dinheiro ao bolso, com as aprovações ou reprovações que se fazem. O tempo dirá quanto custou aos cidadãos do Porto a forma como o Dr Paulo Morais geriu o Urbanismo. Sem mudar nada para melhor, diga-se.
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
PS- a obrigatória declaração de interesses nestes casos: o Dr Paulo Morais aprovou os projectos que lhe submeti enquanto promotor imobiliário.