De: Rui Encarnação - "As malvadas politiquices!"
Parece ter passado em claro o pronunciamento de mais um Tribunal sobre o inigualável processo de “consulta pública” para o Rivoli. Não admira! A nossa massa crítica e pensante – sabe lá Deus porquê – optou, em relação a Rui Rio, por adoptar o princípio de que os fins justificam os meios e, como tal, perdoam-lhe o devaneio de ter feito o que fez, e como fez, por conta da sua apregoada seriedade, honestidade e rigor. Apesar de, neste caso, o fim visado ser abominável e não servir de justificação para qualquer meio (como se algum servisse!!!), é curioso constatar o silêncio cúmplice da bancada de comentadores e opinadores, pois a ilegalidade declarada em Tribunal parece ser coisa de somenos e totalmente irrelevante.
Mas, quando se trata da extinção do Porto Feliz, a urbe levanta-se e ruge, com cartas de apoio e, a ver vamos, manifestações de desagravo à CMP e ao seu Presidente. Há duas curiosidades nesta questão do Porto Feliz.
- A primeira prende-se com a limitação do programa e da sua utilidade aos arrumadores e sua erradicação (ai que palavrinha tão mal escolhida...). Aqui parece-me que a nossa classe opinante não conhece absolutamente nada do Porto, e muito menos dos fenómenos da toxicodependência e exclusão. Limitar o programa e a sua utilidade aos arrumadores é esquecer que existem mais, muitos mais, toxicodependentes que necessitam de tratamento, ajuda e recuperação e que não são arrumadores. Esses talvez só os vejam junto dos bairros, nos locais de venda de droga, a roubar, a prostituir-se, etc., etc... Mas, pelos vistos, não incomodam. Ao contrário dos arrumadores que, por estarem à vista e à luz do dia, são incómodos, porque visíveis. Daí que é melhor erradicá-los (quiçá adoptando o modelo Cubano ou Soviético ou da velha proibição da mendicidade transmudada, agora, para a arrumação de carros).
- A segunda contende com a preocupação do nosso Presidente com os trabalhadores do Porto Feliz; preocupa-se porque é gente com qualificações e experiência profissional relevante e que vai fica no desemprego e desaproveitada. Não podia concordar mais com as preocupações do Sr. Presidente e, por isso, sugiro-lhe:
- A) afecte 70% da verba que a CMP gasta com propaganda e publicidade ao programa Porto Feliz e aproveite a mão-de-obra;
- B) afecte 20% dos custos do GP histórico, Turismo e Red Bull Air Race ao programa Porto Feliz e aproveite a mão de obra;
- C) afecte aquilo que diz ter poupado no Rivoli (400 mil contos) ao Porto Feliz e aproveite a mão-de-obra.
Por fim, peço-lhe, Sr. Presidente, use o mesmo critério com os trabalhadores do Rivoli e da Fundação da Zona Histórica, pois estão em paridade com os do Porto Feliz e, já agora, deixe a guerra política para o parlamento, para dentro do seu partido e exerça, em nome do povo, o mandato que lhe deram, pois ninguém o elegeu, nem lhe paga, para fazer política com o património e os interesses desta Cidade.