De: David Afonso - "A Baixa..."

Submetido por taf em Terça, 2007-10-30 11:16

As Juntas de Freguesia do centro histórico do Porto avançaram para a criação da Associação para a Promoção Social do Centro Histórico do Porto e fizeram bem. A extinção da FDZHP criou um vazio na reabilitação social do casco histórico. A ideia faz todo o sentido e digo isto com alguma generosidade porque tanto quanto se saiba não foi apresentado nenhum programa, estratégia ou metodologia. A ideia, apesar de tudo, vale por si. Os autarcas apenas se limitam a ocupar o espaço da evidência: a PortoVivo por si só não pode nem deve resolver a questão social. Dito isto, vamos ao que está mal: não se pode apresentar um projecto destes disparando à esquerda contra Rui Sá e à direita contra Rui Rio, sob pena de transformar um projecto social num projéctil político. Estas coisas devem ser pensadas a longo prazo e não podem ser reduzidas a uma jogada de xadrez da politiquice local cujos ganhos são sempre circunstanciais e limitados. Vamos é pensar em grande e olhar para a cidade sem ajuda da matriz partidária. É claro que, quando digo isto, não estou a afirmar que os partidos devem fazer como o PS que abandonou a cidade para parte incerta deixando as despesas da oposição para os peões. O que eu afirmo é que não se pode confundir "Promoção Social" com "Promoção Partidária"…

Uma Loja do Cidadão na Baixa é também uma daquelas necessidades cuja evidência se impõe a qualquer um. Sabemos todos nós quais foram as circunstâncias especiais que levaram ao exílio desta infra-estrutura para onde está agora. De algum modo, podemos dizer que o PS está em dívida para com a cidade porque foi sob a sua gestão que a asneira foi feita. Está, portanto, na hora de emendar a mão. A criação de uma Loja do Cidadão depende do Governo central e apenas deste, embora uma atitude proactiva do poder municipal também ajude. Na Baixa conheço uma boa mão cheia de edifícios ou conjunto de edifícios devolutos – ou quase – prontos a receber este tipo de serviços, estando todos eles situados num raio de 50 metros de uma estação do Metro. Existe a necessidade e existe a possibilidade. Só falta a vontade. Ah! Já agora: esta Loja do Cidadão da Baixa poderia ter uma passadeira verde para os pequenos empresários que exercessem a sua actividade na Baixa. Isto é que seria uma incubadora de empresas. Função essa que a Baixa e o Centro Histórico têm vindo a desempenhar ao longo de séculos com os bons resultados que se sabe sem precisar de uma mão que embale o berço.

Matosinhos vai ter a sua Serralves II e está de parabéns. Aproveito para dizer que a Baixa do Porto também poderia ter a sua extensão de Serralves. Se Matosinhos se disponibiliza inteligentemente para servir de armazém a colecções de arte contemporânea, a Baixa do Porto poderia desempenhar o papel de caixa de recepção de Serralves, aproximando ainda mais a instituição da cidade. Há muito turista acidental que desconhece o Museu mas que vem ao Centro Histórico e muito jovem artista que gostaria trabalhar com Serralves mas que ainda não está em fase de musealização. Não é uma ideia absurda. Afinal, Serralves vai ter um extensão em Matosinhos, não é? E também conheço na Baixa o edifício perfeito para albergar esta Serralves III.

David Afonso
davidafonso @quintacidade.com