De: Manuel Moreira da Silva - "Como se planeia uma cidade (alguém o ensine à Câmara)"
Lamentando mais uma vez a falta de tempo que tenho tido para participar mais nos debates de ideias, apareceu outro assunto que não posso deixar passar sem comentar.
Pasmo ao saber que a Câmara do Porto, através da Porto Vivo SRU, um ano e meio depois da publicação do PDM e da conclusão das obras da Avenida dos Aliados se lembrou de encomendar um estudo sobre a Baixa a um grupo de consultores imobiliários. Talvez tivesse sido útil fazê-lo antes de gastar dinheiro no PDM, nas obras da avenida, no eléctrico, etc., de modo a qualificar as encomendas que foram feitas (gostava de saber o que é que foi encomendado aos autores dos planos e projectos).
Agora o resultado ventilado pelos jornais e ecoado nos blogues parece indicar que vamos ter mais uma temporada de obras para promover a gentrificação de todo o centro do Porto. Digo isto apenas com base no que se pode ler das notícias onde se repetem expressões como lojas de moda, restaurantes de qualidade ou franchisings internacionais, porque apesar de ter procurado no site da SRU, no site da Câmara e no site da Consultora, não há sinal do tal estudo (dá que pensar nos condicionamentos de opinião que conseguem provocar quando se escolhe muito bem a informação que se liberta e o timing em que esta é disponibilizada, uma lição que já aprendi com o caso do Palácio do Freixo). Se este plano (a colocar em prática até 2010) for para a frente vamos ter uma Baixa com a mesma oferta que o Norte Shopping (apesar de estar referido que se vão proteger os nichos de comércio típico, para inglês ver). Com alguma visão expande-se a cobertura da rua de Cedofeita para uma proposta deste tipo, junta-se estacionamento gratuito e as hordas de consumidores que deambulam diariamente pelos centros comerciais ainda colocam a Baixa do Porto na lista. Eu ou a Câmara, um de nós perdeu o juízo.
Talvez não fosse má ideia a Câmara pensar em entregar este tipo de estudos à Universidade do Porto, ao centro de estudos da FAUP, ou fazer um concurso de ideias, como está a fazer para a marginal do Douro. Mas má ideia, para mim, é entregar assim a uma empresa deste tipo, que se especializa em valorizar ao máximo o parque imobiliário para o vender aos mais altos preços. Não é só com especulação que se faz cidade. Se este plano for para a frente (pelo menos no que se diz sobre os Aliados) acontece o inédito - Na mesma legislatura, a mesma equipa faz uma coisa e o seu contrário. Normalmente a acção desenrola-se em vários actos e é preciso esperar que mudem os eleitos para se colocar tudo em causa. Parabéns...
Gostava que o estudo fosse disponibilizado para não estar a especular com base em notícias encomendadas (estudo a que o JN teve acesso... uma bela maneira de começar a familiarizar os cidadãos com as opções que vão ser tomadas). Se alguém souber por onde anda, por favor avise aqui no blog. (também gostava de saber quanto custou, para ver quanto me custou).
Entretanto lembro que faltam poucos dias para acabar a exposição do Dali no Palácio do Freixo e que depois disso a pérola da arquitectura civil portuense vai ser entregue ao Grupo Pestana - aproveitem para ir ver, que também aqui o futuro é negro.
Manuel Moreira da Silva
PS: aviso também que na próxima sexta-feira 26 de Outubro, às 11h da manhã há no anfiteatro da Exponor, no âmbito das conferências de arquitectura da Concreta uma conferência do arquitecto Alberto Campo Baeza, seguido às 17h do portuense Adalberto Dias (autor p.e. do projecto do funicular dos Guindais) e às 18h15m do arquitecto Carlos Ferrater. Este último foi meu professor e provavelmente irá apresentar algum dos muitos projectos que faz/fez para promotores imobiliários no centro e arredores de Barcelona - vale a pena ver para perceber que a péssima qualidade dos projectos de arquitectura (alguns feitos por não arquitectos) que são regra na especulação imobiliária em Portugal, não é a única maneira de actuar.