De: Rui Valente - "Televisões = Centralização"
Há muito que tenho a firme convicção que, a par e em sintonia com o Estado, um dos instrumentos com maior responsabilidade pela macrocefalia centralizadora do país na capital se deve substancialmente à acção dos orgãos de comunicação social, com destaque para a televisão, pelo forte impacto de audiências que disfruta junto do grande público.
Por razões temporais, não irei ao ponto de garantir (como já alguém disse) que a televisão elege ou derruba Chefes de Estado ou Governos, mas não hesitarei em afirmar que - num país de gente despolitizada e apática, como ainda é o nosso - pode perfeitamente manipular a opinião pública à penumbra de práticas aparentemente democráticas e até lisonjeiras. Mas, com o tempo necessário para a tarefa, não custa a crer que seria mesmo capaz de derrubar e eleger Governos. A juntar a esse poder semi-oculto, mas factual, existem outro tipo de fenómenos de carácter socioeconómico, como é o caso do futebol, que a televisão explora para manipular a população em função dos seus desígnios ou prioridades. Assim, com todo o tempo do mundo e sem oposição, vai urdindo valores, inventando intrigas, carimbando competências, levantando suspeitas, ao mesmo tempo que modela mentalidades e opiniões públicas.
Deste trabalho de formiguinha, em prol dos interesses centralistas, obviamente, não assumido, as televisões usam a clubite aguda dos portugueses para os dividir, incluindo gente da mesma cidade e região, preparando-se pacientemente para recolher os "louros" chegada a hora de "decidir" a Regionalização. Não é por acaso que este tema (o da Regionalização), sendo tão pertinente ao nível do interesse e da receptividade pública, com sucesso previsivelmente garantido, é dos raros de que as tvs lisboetas preferem abdicar. O mesmo se passa com alguns fazedores de opinião ao seu serviço, como Pacheco Pereira e Marcelo Rebelo de Sousa que fogem do assunto como o diabo da cruz...
Pelo exposto, o resultado do trabalho missionário das televisões, junto do Poder Central, à imagem da "acção psicológica" usada pelo exército na ex-guerra colonial para "amansar" os rebeldes, redundou num acentuado bairrismo das populações (no que de pior contém a nova adjectivação), gerando fissuras difíceis de sanar a curto prazo. A discussão pública sobre a Regionalização patente em alguns espaços de opinião na Web, como fóruns, blogues, etc., mostra-nos à evidência esses sintomas. Bastará pesquisarmos atentamente para percebermos que a lei "SONY", aquela que dizia "a minha televisão é maior que a tua", domina o conceito de divisão territorial de alguns supostos "regionalistas", de tal forma que, não tarda, estarão a discutir ferozmente o espaço reservado a cada membro da família dentro da sua própria casa sem opção referendária.
E é destes "regionalistas" que o Centralismo gosta.