De: Rui Valente - "Lisboa, porto seguro da Europa"
Estou siderado. Sei que sou do Porto, cidade onde o número de provincianos per capita é o mais elevado do país, mas mesmo assim não consigo resistir ao orgulho que de momento sinto em ser português e vou ter mesmo de desabafar.
A sério. Hoje, ouvi com súbdita veneração nas tv's lisboetas algumas declarações que me deixaram completamente embevecido. A saber: "Lisboa é o Porto seguro da Europa!", "Tratado de Lisboa" , "Lisboa vai ficar para a história da UE", "Raticação do Tratado Reformador assinado em Lisboa", etc. e tal.
É claro que, mau grado as crescentes descortesias (isto para ser simpático) que nestas últimas três dezenas de anos têm sido infligidas a esta cidade de província que é o Porto, pela parte do Estado e também pela própria sociedade civil, a verdade é que os tripeiros não costumam fazer grandes feijoadas na companhia do Presidente da República e tudo, sempre que se inaugura uma ponte... Isto deverá decorrer do facto de ter sido aqui que inventamos as Tripas à Portuguesa. Mas também temos o vinho do Porto e do Douro de Mesa (abençoada região, Alto e Litoral), bem mais apropriado para tais solenidades, e nem por isso fomos para a rua brindar com a inauguração do Metro ou da Casa da Música ou mesmo fazer piqueniques pela edificação das três mais recentes pontes sobre o Douro. Mas, se calhar, é assim mesmo que reagem os provincianos, com sobriedade e alegria contida.
Existem porém aves raras, espécies mais sofisticadas com gostos sublimes, como é o caso do nosso Presidente da Câmara que, segundo consta, nasceu no Porto e adora os hábitos vanguardistas da capital, como produtores (copiadores) de obras mais ou menos teatrais e árvores de Natal candidatas ao guiness do gigantismo (expressão muito apreciada lá para as bandas da capital).
Mas, repescando o tema inicial e já um pouco refeito da minha euforia, dei por mim a lembrar-me do político/intelectual (ou vice-versa) de serviço da SIC Notícias, ao que parece instigador do substantivo "populismo", agora muito na moda, José Pacheco Pereira. E pensei: mas afinal, à semelhança do que aconteceu com a entrada de Portugal na então Comunidade Económica Europeia e dos seus inconsequentes resultados na qualidade de vida dos portugueses (a não ser para a piorar), que razões temos nós para nos deixarmos contagiar com estas vaidades parolas como é a da assinatura do "Tratado Reformador de Lisboa"?
Senhor Pacheco Pereira & Ca., não será este o genuíno populismo que tanto gosta de realçar, ou prefere a versão politicamente hipócrita que nos faz recordar que, de costas viradas para a porcaria da "Cimeira de Lisboa", existem em Portugal cerca de 500.000 de almas desempregadas?
Rui Valente