De: F. Rocha Antunes - "Trindade multiplex"
Meus Caros,
Percebo a importância que os arquitectos dão à revogação do 73/73 e é evidente que concordo que a arquitectura deve ser um exclusivo dos arquitectos. Dito isto, também convém dizer que há muita coisa feita por arquitectos que é má, e que ser feito por arquitectos não garante por si só que seja bom. E se o dever de arquitectura de que o Alexandre fala é muito importante, o dever de abertura que o exclusivo implica ainda deve ser mais realçado. Os arquitectos têm que perceber que, sendo intervenientes essenciais do processo de criação de cidade, não são os únicos.
Há um exemplo magnífico na Baixa do que isso quer dizer, o novo edifício da Metro na Trindade. Penso que todos concordam que é um terreno chave da ligação entre a zona da Trindade e a zona de Gonçalo Cristóvão. Com a sua extensão, localização e diferença de cotas permitia, uma vez concluído o processo de instalação dos dois canais do metro, ser bem mais do que a sede de uma empresa de transportes.
Eu sempre achei que naquele espaço se deveria ter instalado o Corte Inglês, mas pelos vistos a ideia não era exequível. Nunca percebi porque, uma vez que de certeza que a cadeia espanhola não se importava nada de esperar mais uns meses e ficar em cima do único cruzamento de linhas de metro e no coração da área metropolitana. Não acredito que tenha sido por medo de discutir o assunto com o autor do projecto já existente. Nem por preferir que fosse a sede da Metro em vez de um activo que, fazendo todo o sentido ser localizado naquele lugar, pudesse pagar bem pelo mesmo espaço.
Agora que se perdeu essa oportunidade, embora na altura ela tivesse sido referida, pelo menos por mim, mas seguramente por muitas outras pessoas, convinha pensar noutra utilização que seja mais útil à cidade que os escritórios da Metro.
A minha sugestão é que seja aproveitado o espaço para desenhar, com calma e qualidade, um enorme multiplex de cinemas. O mercado dos operadores de cinema não está a atravessar o melhor momento, mas esse momento mau é a parte debaixo de um ciclo de negócio que vai recuperar e que dá tempo para preparar um projecto decente, aberto e participado que permita à cidade dotar o seu centro do multiplex de cinemas que esteve para ir para Santa Catarina e que afinal não vai, e que não foi para Gaia para onde acabou por ir parar o Corte Inglês.
A esse multiplex de cinemas podem ser associados os espaços de lazer e restauração adequados ao equilíbrio financeiro da operação. Aproveitava-se a enorme centralidade e a capacidade que o espaço tem de absorver volumes levados como são sempre as salas de cinema. E como até parece que não vale muito, senão não tinham feito, de certeza, apenas os escritórios da Metro, podia estar em condições de ser atraente para os investidores nessa área.
Até aposto que o autor do projecto actual não veria com maus olhos esta evolução. Mas isso aqui estou a especular sem rede :-)
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário