De: Alexandre Burmester - "Imobilidade"
Desde o dia em que os STCP decidiram retirar os Eléctricos da cidade, muitas pessoas houve, entre as quais me incluo, que têm vindo repetidamente a pedir a sua volta. Tipicamente os STCP, com aqueles ouvidos cheios de cera e os olhos cheios de miopia, apostaram nas linhas de Autocarros de 2 andares ou articulados nas sanfonas, tão à escala da nossa malha urbana. Apostaram nos trajectos fantásticos, do tipo “Matosinhos/Hospital S. João”, passando pela Foz, Pasteleira, Campo Alegre, Palácio de Cristal, Stº António, Baixa, etc..., e muito outros, sempre com direito de passagem pela casa da partida (Av. dos Aliados), e que se traduzem em itinerários que deviam constar nos livros do Guiness.
Mas à semelhança da lógica de mobilidade automóvel, os nossos técnicos só pensam em grande, assim como já não sabem fazer ruas, porque só entendem de auto-estradas e ICs, que cruzam pelo meio do espaço urbano, também não entendem que para além destes paquidermes de transportes públicos que circulam na cidade, como os Autocarros, ou o “Metro”, não há lugar a transportes e à mobilidade de pequena escala. A mobilidade de pequena escala, que serve as ligações entre a Batalha e Santa Catarina, entre esta e a Av. dos Aliados, entre estes e Gonçalo Cristóvão, ou Cedofeita e Praça Velásquez, ou Rotunda da Boavista, Júlio Diniz, Campo Alegre, Palácio de Cristal, Marginal, Foz, etc, etc, etc…. Serão estas ligações que, garantindo a interligação entre as partes da cidade, irão permitir a sua unidade e a sua reabilitação, fazendo-as funcionar num todo.
Hoje temos partes de partes entre interstícios de cidade, verdadeiras rupturas urbanas que dificultam a renovação da Baixa do Porto. Não será preciso aqui enumerar os muitos trechos de ruas abandonados entre Santa Catarina e Sá da Bandeira, entre estas e a Rua da Alegria, S. Lázaro, Bonfim, entre Cedofeita e Aliados, etc… O eléctrico deveria aqui servir como o tapete rolante entre estas partes da cidade, devia ser de graça (porque facilmente se subsidia), deveria ter a regularidade de um serviço à população, e não um tempo apenas para o turista. Deveria seguir toda a marginal, seguir pela frente marítima (que, tendo os trilhos, aguarda sem entender aos anos a sua ausência), continuar para Matosinhos e subir a Boavista. Deveria ser o Eléctrico, antigo ou moderno, à escala das ruas, à escala do trânsito e à escala da cidade. Não inventem por favor uma linha de tipo de rolo compressor, que venha rasgar a dimensão urbana. Esqueçam as auto-estradas e pensem nas ruas.
Mas o que fazem os STCP, gastaram um dinheirão a retirar trilhos desde 1980, a recolocar trilhos em 2001, a retirar trilhos em 2004, a recolocar trilhos em 2007, e no final com pompa e circunstância inauguram um pequeno trecho, onde colocam um e apenas um eléctrico a fazer todo o circuito. É caso para dizer que estamos perante um caso de polícia. Tanta estupidez não se justifica pela incompetência, mas sim pela má-fé, má gestão e fundamentalmente pela falta de responsabilização.
Senhores especialistas de trânsito e de mobilidade, façam um favor a vocês mesmos, venham a público dizer o que acham e justifiquem-se, ou então façam-nos o favor a nós – demitam-se.