De: Pedro Lessa - "Exclusividade não, um dever e um direito"
Começo por saudar a arq. Paula Morais pelos contributos dados aqui no blog, cujo teor a maior parte das vezes me cativam a atenção pelo seu interesse e qualidade. De facto, gostaria também de dar o meu contributo como Paula Morais tem feito, mas por vezes o tempo voa e torna-se impossível fazê-lo.
Quanto ao tema do seu último post, várias vezes já aqui o tenho referido como uma das grandes deformações na nossa sociedade, claramente em prejuízo do bem estar geral e do desenvolvimento urbano. Legitimamente, a opinião pública já clama pela responsabilização dos arquitectos no mau urbanismo e respectivo edificado, não sabe é que 95% do que se vai fazendo não é feito por arquitectos.
Tenho esperanças também que depois deste problema legal ultrapassado, se resolva a questão da relação dos arquitectos (e só pode ser resolvido através da Ordem) com a prática da actividade em todas as suas vertentes, seja burocrática (na relação com entidades) seja no contacto com o cliente (p.ex. na aplicação de tabelas de honorários). Por variadas vezes já aqui indiquei o exemplo espanhol, onde todo o processo é coordenado pela Ordem do princípio ao fim. Inicia-se logo no controle de honorários, para evitar situações de descontos em claro prejuizo da qualidade do projecto (já me sucedeu trabalhar no interior do país onde após apresentar a nota de honorários me dizerem que era elevada e seria habitual o projecto custar apenas 10% do que estava a apresentar) até à análise regulamentar do processo para futura entrega na Câmara.
Enquanto todos os intervenientes no processo urbanístico não se mentalizarem que as Câmaras Municipais apenas devem ter como competência aprovar processos, todo o processo se arrastará eternamente assim como toda a série de "tentações" decorrentes. As Câmaras deveriam apenas e só aprovar os processos e não analisá-los. Imaginem só a quantidade de pressões, intromissões e tomadas de posições se evitariam sobre quem realmente analisa tecnicamente um processo. Um regulamento é um regulamento para um técnico, não há como se desviar dele.
Considero também que este problema é sintomático de todo o funcionamento da nossa sociedade e sua administração pública. Em vez de se simplificar só se complica procedimentos, por vezes parecendo que a intenção real é fomentar compadrios e corrupção. A ver vamos se o Simplex não descamba em Complex.
Para terminar, e ainda em relação ao anteriormente exposto no que concerne à nossa sociedade e principalmente à postura cívica dos portugueses e sua civilidade, não resisto também a invocar Pessoa em O Infante,
Quem te sagrou criou-te português
Do mar e nós em ti nos deu sinal
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal
Cumprimentos,
Pedro Lessa
pedrolessa@a2mais.com