De: José Luís Ferreira - "Um eléctrico chamado desejo..."
Desculpem, mas não resisto! Eu sei que começo a ser conhecido por ser um afirmado antagonista do presidente de Câmara que elegemos, e que isso acabará por diminuir aos olhos de alguns a legitimidade das minhas afirmações. Mas, a esta não resisto...
Acabo de, em pleno dia grande da semana da mobilidade, vir a pé da Cordoaria, onde trabalho, até ao Heroísmo, onde habito. Faço este percurso diariamente pelo menos uma vez para cada lado e tenho, portanto, estado à espera do famigerado eléctrico. Ao menos vai poupar-me às subidas e descidas que, se tanto contribuem para a minha forma física, vão moendo todos os dias as minhas pobres pernas, hoje um pouco menos jovens do que já foram.
A CMP, ou seria a STCP (?), tinha prometido o dito eléctrico para hoje, sexta, 21. Procurei-o de manhã e não o vi. Procurei-o à hora de almoço e ele não estava. Procurei-o ao fim da tarde e népias. Concluí que a CMP (ou seria a STCP?) tinha faltado ao prometido. Ora, quando chego aos Aliados, por volta das 19h30, reparo numa enorme feira montada na pequena rua central que dá acesso à rua de Ceuta e, como bom cidadão, aproximo-me para ver o que se passa.
Pois havia um palanque, do cimo do qual o nosso presidente da Câmara (ou seria o presidente da STCP?) perorava sobre a reabilitação da Baixa. Por detrás dele, fazendo cenário, estavam dois eléctricos parados, vazios, servindo para o que não servem, ou não servindo para o que servem. Na rua (de cujo nome agora não me lembro) que acompanha a fachada lateral do Rivoli (que Deus tem, coitadinho), estavam mais dois. Igualmente parados, pauzinho recolhido, impotentes. Desde essa rua, até à Praça D. João I, até ao cimo de Passos Manuel e para lá da Praça dos Poveiros, por Sá da Bandeira acima, centenas de carros (sexta-feira ao fim da tarde, primeira semana de aulas, blá blá) desesperavam em ordeira espera, imóveis ao crepúsculo do grande dia da mobilidade!
Pois, dir-me-ão que eu sou um exagerado, que fantasio, cheio de má vontade. O que eu posso dizer é que, se o dispositivo me entristece, já me indigna o (ab)uso da cidade que tudo isto mostra: falamos de mobilidade, anunciamos um eléctrico que nasce logo desqualificado (veículos do tempo da maria cachucha, frequência risível, poluição sonora dos teatros da cidade…), não o pomos a funcionar no dia devido, guardamo-los para um evento mediático de fim de tarde... Impedimos as pessoas concretas, que circulam realmente na cidade, sem motor ou motorista, de começar a usufruir de um bem público, entupimos o trânsito no dia da mobilidade... Como diziam (e dizem quando é preciso) os nossos vizinhos: basta ya!
P.S.: Sobre o (fragmento de) discurso que ouvi, nem comento. Atribuo tudo a pura alucinação auditiva dos meus pobres ouvidos cansados.