De: José Luís Ferreira - "Eu, vou passar o meu 5 de Outubro na Cândido dos Reis. E você?"
Como dizia o meu avô, nada acontece por acaso… Se temos uma visão de merceeiro, fazemos coisas de merceeiro (sem qualquer desrespeito para os próprios, claro). Se somos arrogantes, produzimos arrogância. Se escolhemos não ver, fazemos coisas verdadeiramente cegas (não, também não estou a falar de cidadãos invisuais).
Como escreveu um dia um senhor chamado Gilles Deleuze – um filósofo que se interessava sobretudo por política, porque o motor que o impelia à filosofia era a vergonha perante uma sociedade onde o condicionamento se sobrepõe à experiência – «não é hora de temer ou de sonhar, mas sim de procurar novas armas» (tradução livre de Il n'y a pas lieu de craindre ou d'espérer, mais de chercher de nouvelles armes.)
A realização da festa do Plano B na rua Cândido dos Reis é um direito cidadão. É natural que o senhor presidente da Câmara não perceba que uma das particularidades que ainda faz do Porto uma cidade com alguns focos vitais é a proliferação de espaços mistos, comerciais e culturais, como o são também o Contagiarte, os Maus Hábitos, o Maria vai com as outras, o Artes em Partes, o Plano B, e outros de que não me lembro agora (desculpem-me). Espaços e promotores destes não abundam noutras cidades como no Porto. Porque será? Eu acho que é por haver uma capacidade de resistência muito forte nesta cidade, capaz de sobreviver à longa noite do riismo (ou será do ruismo?). Essa capacidade de resistência e a capacidade de afirmação, exigência e responsabilidade dos cidadãos é a nova arma contra a estagnação, o imobilismo e o governo da mediocridade.
Eu, vou passar o meu 5 de Outubro na Cândido dos Reis. E você?
José Luís Ferreira
P.S.: Para outros detalhes sobre esta questão de uma sociedade em «miséria simbólica» e chafurdando na «catástrofe do sensível», ler os dois tomos de De la misère symbolique, de Bernard Stiegler, ed. Galilée, ou ir consultando tenhoumdedinho.blogspot.com.