De: Paulo Espinha - "«Não é o Tráfego, Ó Estúpido!»"
Carissímos,
No passado dia 6, cheguei tarde à sessão de discussão pública realizada. Contudo, em conversa de fim de noite nos passsos perdidos, à minha pergunta: E então o Tráfego? Ouvi: Que Tráfego?
Meus caros, os cerca de 230.000m2 de ABC (Área Bruta de Construção), tal como está repartido pelas diversas funções, irão gerar, no período de ponta da manhã (o mais concentrado), pelo menos, cerca de 900/1000 deslocações (pico durante uma hora apenas) a mais sobre a rede. Isto é equivalente a uma Unidade Comercial de Dimensão Relevante com cerca de 40.000m2 de ABL (Área Bruta Locável). Para uma unidade deste tipo, a legislação exige que se faça um EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e que se cumpra a Lei 12/2004. Em particular, no caso do tráfego e mobilidade, há que responder eficazmente às alíneas m) e n) do Anexo II. Aí se exige a análise do comportamento da rede viária envolvente, a mais de 10 anos, e a proposta de medidas que comprovem a salutar fluidez da mesma à data.
No caso presente, a rede viária directa envolvida e envolvente é:
- 1) Av. Boavista até ao Pinheiro Manso;
- 2) Av.Marechal Gomes da Costa;
- 3) R.Diogo Botelho até à Junta de Freguesia de Lordelo do Ouro;
- 4) Castelo do Queijo e Circunvalação.
Dizem-me (cf. PDM) que a Via Nun'Álvares é estruturante. Se o é, são fundamentais não só as suas costuras às vias subalternas, mas essenciais as costuras à restante rede estruturante. Daí a importância do "Nó a Estudar"!!! Mas não é só isso. Dizem-me (os moradores) que, ou se passa até às 8:15, ou então já se tem o início do dia estragado... A partir de determinada hora, quantas vezes são obrigados a parar para atravessar os semáforos do Pinheiro Manso? Isto é, meus caros, não basta desenhar uma rotunda no "Nó a Estudar". É preciso muito mais e não é assunto para Arquitectos, Geógrafos, Sociólogos ou para Urbanistas. É assunto "hard" para Engenheiros de Tráfego e Transportes.
Por outro lado, para não ser acusado de não pensar nos transportes colectivos e não entrar numa análise mais abrangente de mobilidade, pergunto: alguém acha que o Metro vai retirar fatia importante aos fluxos estimados? Para o tecido socio-económico em causa, os únicos transportes colectivos relevantes são os das pistas de comboios Märklin. Ah, porque o metro pode mudar as coisas, etc e tal... Mudar o quê, se em dia com 40º no exterior lá dentro estarão uns miseráveis 30º.
De facto, Não é o Tráfego, Ó Estúpido! É SIM, A QUALIDADE DE VIDA E AMBIENTE URBANO, Ó ESTÚPIDOS! E o Estúpido aqui, definitivamente, não sou eu! É O URBANISMO PORTUGUÊS NO SEU MELHOR! ANTES TINHAMOS O PORTUGUÊS SUAVE! AGORA, O URBANISMO LIGHT... PODE? PODE! DEVE? NÃO DEVE!
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PS - Nota de TAF: eu tinha incorrectamente "traduzido" ABC por Área Bruta Coberta, quando na realidade é suposto ser Área Bruta de Construção. As minhas desculpas.