De: Pedro Cameira - "Em resposta a Luís Gomes"
Caro Luís Alexandre Gomes
Salvo o devido respeito, que é obviamente muito, creio estar equivocado quanto à idade da chamada “casa manuelina”, e temo estar eivado de um apuro estético bem diferente do meu mas, quanto a isso, cada cabeça, cada sentença.
No que concerne à idade do imóvel, não tenho grandes dúvidas estarmos perante um verdadeiro pastiche, certamente da responsabilidade de um qualquer emigrante retornado do Brasil em finais do século XIX e da autoria de um qualquer arquitecto saloio da altura, a quem terá sido encomendado um palácio “igual aos dos ricos”. Faz-me lembrar o edifício da Câmara Municipal do Porto, que acredito radicar a sua génese em inícios do Século XX e deliberadamente construído “à moda do antigamente”. Enfim, é a história das fábricas de móveis antigos: “Oh Faxavôr, o senhor faz camas Luís XIV?”
O problema da estética fora de tempo é, precisamente, o tempo, cujo decurso faz diluir a sua desadequação. É assim que olhamos para tais imóveis, como se de há mais de 300 anos ali estivessem, e como se não fossem uma piroseira pósdatada.
É certo que o enquadramento no qual se encontra a “casa manuelina” é uma desgraça. Prédios indiferentes na primeira linha de mar, com quatro, alguns mais, andares de altura, o que só contribui para realçar a casa, por mera comparação. Mas acredite, caro Luís Gomes, que estivesse a casa 2 quilómetros mais a norte e a sua inépcia estética seria ainda mais evidente. A questão não é só o facto de se tratar de um pastiche – questão que será consensual – mas peca também a casa por o estilo manuelino, já de si um pastiche do gótico, ser particularmente feio – o que, aqui, já dependerá do senso de cada um…
De todo o modo, seja qual for o fim que entenda dar à casa, bem melhor seria livrá-la dos rócócós que a inquinam.
Com os melhores cumprimentos,
Pedro Archer Cameira