De: Nicolau Pais - "À Memória Futura"
Deparei recentemente na Av. da Boavista com mais um belíssimo outdoor, daqueles que - como o do "Porto a ler", as "Praias que veremos com outros olhos" ou "A nova Baixa que vai nascer" - vão marcando o espaço comunicacional que a CMP insiste em ocupar, numa lógica de trombone imparável, sinfonia desconcertante quando contraposta à inacção e morbidez torpe em tomar decisões concretas e estratégicas ao invés de solucionar milagrosamente males fomentados "em casa". O problema é que a música nos sai do bolso, e o "cego que canta" cobra caro. Reza o dito outdoor, se não me falha a memória: "conheça a cidade das pontes". Em português e mais nada, que as hordas de turístas - aposta da CMP para este ano, enquanto 2008 não traz outras inflexões políticas - têm é de fazer um esforço pela língua de Camões.
Da minha curta experiência como empresário na área da comunicação, diria que é uma espécie de "vá para fora cá dentro" ingénuo, não estivesse o "gato com o rabo de fora". No meu caso, como no da esmagadora maioria dos Portuenses, a publicidade é redundante; digo redundante porque conheçemos as pontes e a nossa estima pela cidade onde vivemos não vive das "luzes" que a máquina da CMP decida sobre ela apontar. (Não é trocadilho com a recente iluminação da Ponte da Arrábida com que o Dr. Menezes nos prendou.)
Protagonista do postal mais bonito, D. Luís I ostentou as letras "Porto Património Mundial", agora arquivadas no coração de muitos de nós, mas não esquecidas; rio acima, São João (já lá vamos, Eng. Edgar Cardoso) e Freixo abrem as portas ao tráfego de massas, ferroviário e rodoviário; de permeio, angustia D. Maria Pia, com futuro incerto. Pela Ponte do Infante chega gente de Gaia, muitos deles nascidos e criados nesta margem do Rio, para ver uma Baixa outra vez atrasada em obras (we apologise for the inconvenience, noble visitors).
Mas o meu grande outdoor é a Arrábida, a que abre as portas ao mar, aquela cujo significado há muito ultrapassou o propósito objectivo para que foi construída. José Maria Pedroto atravessava-a professando "já estamos a perder um zero", quando levava os rapazes das camisolas Revigrés (passo a publicidade!) à conquista - desportiva...- das terras do Governo Central. Vieram profetas da desgraça e doutores dos males maiores assistir ao flop da sua inauguração, trazendo os seus arautos do fracasso, sibilando medo e desconfiança, tentando desqualificar tudo para só deixar ficar a mediocridade torpe do discurso calculista. Pois sim, tombaram os chico-espertos, redondos como tordos. E a ponte não vacila. Na História ficou a visão do Eng.º Edgar Cardoso, as vistas largas, generosas e geniais com que a projectou, desenhou e inseriu. Para Memória Futura do génio Portuense, ele também "património mundial".
Nicolau Pais
PS- Na procura (falhada) de um jpeg do dito outdoor no site da CMP, deparei com mais uma birra institucional, desta feita porque o JN decidiu "dar capa" ao lixo do Grande Prémio; parece que a CMP acha que o assunto só pode ter ido à capa devido a má-intenção. Eu por cá, acho que o assunto só é capa (para não dizer "cara") da cidade porque o Dr.Rui Rio assim o entendeu de forma política - e fico feliz por saber pela capa do JN quão nu vai o rei; aliás, continuam por pintar as marcas rodoviárias entre o Castelo do Queijo e a "Anémona", enquanto ainda se empilham cadeiras a 150 metros da pérola arquitectónica que é o café Bela Cruz. São os anacronismos da classe política; é como abrir uma nova Avenida numa freguesia onde o estado dos pavimentos roça a calamidade e as pé(rg)olas são esquecidas. Talvez depois dos aviões.