De: TAF - "Ainda há produção a Norte..."
Recebi do Luís Costa, que é o autor e coordenador do documentário "Miguel Torga, o meu Portugal", informação de que ele será exibido no próximo Domingo (dia 12) na RTP2, pelas 21:15, e repete na Segunda-feira, pelas 23:30. É bom saber que ainda se vai produzindo televisão a Norte na RTP!
Para quem estiver interessado em mais pormenores, aqui fica um texto de apresentação:
Documentário
MIGUEL TORGA – O MEU PORTUGAL
Ao longo de 50 minutos, o documentário MIGUEL TORGA – O MEU PORTUGAL (com o qual a RTP2 assinala o centenário do nascimento do escritor, no exacto dia que corresponderia ao seu 100º aniversário) conduz-nos numa viagem pelo país e pela identidade portuguesa que se percepcionam em múltiplos textos de Torga, sobretudo em prosa, e que evidenciam, tantos anos volvidos, uma acutilante e surpreendente actualidade.
O próprio Miguel Torga é o narrador exclusivo deste documentário, uma vez que o guião foi integralmente estruturado com base nos seus textos, sobretudo da relativamente desconhecida produção em prosa que integra a colectânea PORTUGAL, cuja primeira edição data de 1950.
A “voz” de Miguel Torga é aqui substituída pela do actor Sinde Filipe, cuja carreira já se cruzou por diversas vezes com o universo torguiano, enquanto a recriação “visual” de um dos maiores escritores portugueses do século XX é assegurada pelo também actor José Pinto (que tem semelhanças físicas notáveis com Miguel Torga).
A viagem real e simbólica de Norte a Sul de Portugal – bem como pela identidade portuguesa e pelo nosso percurso histórico – que nos é proporcionada pelos textos de Miguel Torga surge neste documentário enquadrada por diversos depoimentos, com especial destaque para Eduardo Lourenço e António Barreto. Embora de diferentes gerações, estes dois relevantes investigadores sociais e pensadores portugueses privaram com Miguel Torga, de quem foram amigos, pelo que disponibilizam ao espectador uma análise exclusiva e privilegiada do pensamento torguiano e da visão peculiar de Torga sobre a realidade portuguesa.
Outras personalidades do meio académico e literário que colaboraram neste documentário – através dos seus depoimentos sobre Miguel Torga e acerca da presença de Portugal na sua obra – foram as seguintes:
Maria Alzira Seixo
Carlos Reis
José Augusto Cardoso Bernardes
José Manuel Mendes
Helena Buescu
Marcelo Duarte Mathias
Com o documentário MIGUEL TORGA – O MEU PORTUGAL procurou fazer-se uma abordagem diferente do universo torguiano: uma viagem “geográfica”, mas também uma viagem “no tempo”, uma vez que a maioria dos textos que constituem este documentário foram escritos há mais de meio século, embora mantendo, em boa medida, uma actualidade desconcertante.
O espectador é introduzido na contextualização da narrativa pelo próprio Miguel Torga: “Portugal tem sido visto por arqueólogos ou por obcecados. São horas de tentar compreendê-lo doutro modo. [De fazer] uma radiografia profunda que revele a solidez do esqueleto sobre o qual todo o corpo se mantém.”.
E o pressuposto assumido por Torga é o mesmo que norteou o documentário: “Temos de conhecer a nossa terra. Mas conhecê-la por dentro, sem preconceitos de nenhuma ordem. Amá-la, sim, mas objectivar-lhe tanto quanto possível os defeitos e as virtudes, para que o nosso afecto seja fecundo e progressivo.”. Até porque “a realidade telúrica dum país, descoberta pelos métodos dum almocreve, é muito mais instrutiva do que trinta calhamaços de história, botânica ou economia.”.
Para além da identidade portuguesa e de uma certa visão de Portugal, o documentário conduz o espectador pela expressão telúrica e pelo patriotismo peculiar de Miguel Torga, de S. Martinho de Anta a S. Leonardo de Galafura (incontornáveis paisagens e lugares de Trás-os-Montes e do Douro nas vivências do escritor) e ainda pelo Minho, Serra da Estrela, Alentejo ou Algarve. E também por cidades como Lisboa, Porto ou Coimbra – a cidade de Coimbra onde Miguel Torga viveu grande parte da sua vida.
Ao longo do documentário são ainda abordados aspectos como a relação de Miguel Torga com o universo da política (no salazarismo, no período revolucionário pós-25 de Abril de 1974 e na fase de consolidação democrática); o prémio Nobel sempre adiado; o seu legado como poeta, contista e ensaísta; ou ainda o iberismo que, em Miguel Torga, parece ser indissociável do seu patriotismo: “Sou um português hispânico. Nasci numa aldeia transmontana, mas respiro todo o ar peninsular. Cioso da minha pátria cívica, da sua independência, da sua História, da sua singularidade cultural, gosto, contudo, de me sentir galego, castelhano, andaluz, catalão, asturiano ou vasconço nas horas complementares do instinto e da mente.”.
O documentário MIGUEL TORGA – O MEU PORTUGAL é uma produção para a RTP2 da responsabilidade da IDEIAS E CONTEÚDOS, produtora televisiva com sede em Espinho que anteriormente produziu um documentário sobre a artista plástica Helena Almeida e um programa especial sobre a pintora Paula Rego (também para o canal 2) e que está a ultimar um documentário sobre o cineasta Manoel de Oliveira para a RTP1. Presentemente, a IDEIAS E CONTEÚDOS tem dois programas semanais em exibição na RTPN: A HORA DE BACO (sobre vinhos portugueses, no ar há mais de 3 anos) e OBRA DE ARTE (sobre o papel e a importância da engenharia nas mais emblemáticas obras de Portugal, que estreou em finais de Junho).
Este documentário foi concebido pelo jornalista Luís Costa (ex-ANOP, LUSA, EXPRESSO e PÚBLICO, actual colunista do JORNAL DE NOTÍCIAS, editor das revistas O TRIPEIRO e BLUE WINE, e autor dos referidos programas A HORA DE BACO e OBRA DE ARTE), também responsável pelo guião respectivo e pela coordenação geral do projecto, e teve como consultor o professor universitário Carlos Mendes de Sousa. Refira-se que Carlos Mendes de Sousa é professor associado do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho. Comissário da exposição sobre a vida e obra de Miguel Torga (1907-1995) promovida pelo Ministério da Cultura/Delegação Norte, é também da sua responsabilidade o colóquio sobre Miguel Torga que irá decorrer no Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em Paris, no mês de Outubro.
O documentário tem realização de Ângelo Peres e a banda sonora é do músico e compositor Manuel Carlos.