De: Aníbal Remo Cunha - "Av. Nun'Álvares"

Submetido por taf em Quinta, 2007-08-09 12:52

Apontamentos sobre a apresentação da UOPG – 1
26 de Julho 2007

Apela-se à calma, tão necessária ao imprescindível consenso. Anuncia-se o momento revelador dos propósitos da inédita iniciativa camarária, cujas virtudes seriam verbalizadas por um professor; convêm professores a explicar as coisas, pois confere-lhes a garantia intimidante da cátedra. Quando o palestrador segura o microfone; (de início também este, intermitente, se intimidou, certamente com a responsabilidade do que, através de si, ia ser dito.) flanou a saudosa imagem do Zeca…

Confessada a humildade perante preceituado no PDM, dogma autárquico, gerado na divindade protectora tutelar, progénito da religião civil, sagração política dos rituais conduzidos pelo poder de origem transcendente, permitido aos senhores do templo. Condorcet; G. Le Bon e Emílio Gentile, instruem-nos sobre esta matéria.

O envolvimento dos proprietários circunscritos na UOPG -1, pressuporá o princípio de Peraequatiõne – conformidade perfeita – acto de atribuir uma coisa a muitas pessoas, por outras palavras; aplicação de equação matemática à moral… soit disaint! Estar-se-ia perante uma sofística colectivização, não fosse a nebulosa fusão de interesse público com lucro.

A proposta urbanística mereceu intervenção de alguns senhores, cautelosos na apreciação, havendo um só que referiu as insuficiências da proposta, logo inopinadamente interpelado pela mesa, impondo-lhe tento na linguagem! Os sons caros ao ouvido político são; o aplauso; o silêncio submisso e principalmente a sua própria voz, alguns vão mais longe, prescindem de ensinamentos, supondo já tudo saberem. O orador adiantou, entre algumas regras de convivência pouco esclarecedoras, prazos e custos, que carecendo demonstração, subjectivam.

No ponto 5 – População - da proposta facultada aos convidados, estima-se que a UOPG-1, quando concluída, incremente a população da zona de intervenção em cerca de 40%, o que levanta a questão; como surgirão estes novos ocupantes?

  • - captados na parte oriental e centro da urbe?
  • - recuperados à vaga migratória para a periferia?
  • - a procriação dos actuais residentes será estimulada?

Cresci no Porto de passeios estreitos, praças não lajeadas, canteiros pirosos, eléctricos apinhados de gente; restaurantes, cafés e comércio acomodando-se com a efervescência cultural. Da quadrícula da Foz, subi a Nevogilde rural de traçado sinuoso, desci ao Homem do Leme, passeei do Marquês a S. Roque, do Bonfim a Ramalde, da Ribeira ao Amial. A cidade é a acumulação de vontades, juntadas com pinça pelo tempo. Se as vontades se vão, vai-se a cidade. Por isso, o Porto articulado e vivente, já não existe.

Os urbanistas e arquitectos esqueceram-se que não trabalham a sua cidade mas a dos outros. Os políticos, agradados no exercício do poder mouco, confirmam que o mamífero mais temível é o que empunha o carimbo, e mal vindo de longe; as normas não ordenam as relações, mas a pessoa. No Porto bipolar, cada vez mais cidade de atravessamento, a Av. Nun’Álvares, tal como é proposta, será a via-rápida de Matosinhos ao deserto que, implacável, se alastra já por Cedofeita, e dividirá para sempre, a Foz de cima da Foz de baixo.

A. Cunha