De: JA Rio Fernandes - "Evidências"

Submetido por taf em Domingo, 2007-08-05 18:59

Bem sei que política está por todo o lado, e fazem-na sobretudo os que dizem que não são políticos! Ainda assim, não estava à espera de ver pela Baixa do Porto tanta sanha anti-Sócrates e novel militância meneziana. Ainda para mais de parte de quem durante tanto tempo defendeu Rui Rio ao mesmo tempo que evitava conversas sobre partidos.

Fala a Cristina Santos de evidências. Acontece que, como quase tudo, há-as para todos os gostos e muitas maneiras de as ver. Deixe que lhe faça chegar algumas mais e diferentes formas de a ver. Perceberá da leitura que para mim o problema não é José Sócrates, o problema está em nos termos atrasado em ter alguém como José Sócrates por primeiro-ministro.

Senão veja:

Tivemos um primeiro-ministro a fugir para a Europa porque o PIB diminuía (quero eu dizer que evoluía mesmo abaixo de zero), enquanto o défice aumentava e não havia que truque que valesse a quem quer que fosse ministro das Finanças (Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix). E sabe que o PIB é importante e faz de nós todos (em média, é certo, mais ricos ou mais pobres)!

Agora o PIB aumenta e esse aumento é progressivamente maior, ao mesmo tempo que, sem truques, o défice diminui e diminui cada vez mais. Como sabe, muitos que não apenas eu, não acreditavam que isto fosse possível de forma simultânea, mais ainda em apenas dois anos e de forma ao que tudo indica sustentável (a acreditar na OCDE, no Banco Mundial, no Banco de Portugal, …).

Durante anos a fio, deixámos que a avaliação e em especial a identificação do mérito andasse próximo da fantochada, em que regra geral (há excepções, como sempre!) a promoção na administração pública resultava do simples facto de se envelhecer, ajudada por vezes pela proximidade ao decisor ou a cor partidária certa. Por isso, o nosso sistema de ensino é dos mais caros da Europa e dos menos eficientes e dá uma formação medíocre; na saúde temos um número de habitantes por médico superior à média europeia e a percepção de um mau serviço; na administração pública nem falar (lembra-se do número de assessores na CM de Lisboa? Sabe o nome dos administradores da Porto Feliz? E da empresa municipal de obras públicas? E de quem estava da FDZHP?

Agora passa a haver avaliação na função pública e nas escolas, está já anunciada a avaliação dos hospitais (de resto como acontece já no sistema privado). Claro que ainda estamos longe de conseguir o que Paulo Macedo proclama, um sector público onde os piores ganhem menos do que ganham agora e os melhores passem a ganhar mais do que ganham actualmente. De facto, esta coisa de um Presidente da República ou um Primeiro-ministro ganhar o mesmo (ou menos) que o director de uma agência bancária só resulta de um populismo que dificulta o mérito no exercício de cargos públicos – refiro-me às mentiras feitas verdade, do tipo “esses políticos que enriquecem à custa do povo”, “ganham que se fartam e nós estamos cada vez pior”–, donde ser ministro não ser por vezes objectivo em si mesmo, mas antes, tristemente, um cargo de passagem para a promoção a um lugar bem remunerado numa associação, confederação, ou administração de empresa privada ou pública.

Durante décadas, fugir ao Fisco era arte de muitos, enquanto alguns – papalvos, por certo! – viam os impostos aumentados e iam pagando cada vez mais. Houve um ano até que aconteceu, não sei se estão lembrados, que aumentaram os impostos e diminuiu a receita fiscal! Pois é, agora fugir ao Fisco é exercício arriscado de que ninguém se gaba e as receitas conseguidas permitem criar riqueza ao país. E o país, para quem tenda a esquecer, somos nós todos.

Quanto à PSP, à GNR, à ASAE e sobretudo a nossa atitude perante a lei, aconselha-se mais visitas aos países que gostamos de ver como referência, quando dizemos que somos um país atrasado (Canadá, Estados Unidos, Dinamarca, Finlândia, Suiça, …) e não a consideração por segundas oportunidades ou mais condescendência, o que nos aproxima mais de países nossos vizinhos do lado Sul.

Claro que ainda não estamos no paraíso e que há desvios de poder. Mas é preciso não olhar apenas para a má árvore e perceber que a floresta está melhor. E ter memória e consciência para avaliar quem nos governa relativamente a quem nos governou, para não andarmos sempre atrás de D. Sebastião e facilitarmos o populismo fácil. Convém por exemplo não nos esquecermos que o PSD aprovou sem votos contra que Pedro Santana Lopes chegasse a primeiro-ministro… O que se pede é que sejamos responsáveis, criticando o que achamos que conduz o colectivo a um futuro pior e atribuindo o mérito a quem consegue, com esforço, conduzir a sociedade a um futuro melhor. Pela minha parte, ao contrário da Cristina Santos, apresento público reconhecimento ao Engº José Sócrates, ao Dr. Teixeira dos Santos e ao Dr. Paulo Macedo, entre tantos bons líderes, no sentido mais nobre do termo.

Quanto ao Dr. Luís Filipe Menezes, reconheço apenas a obra feita em Vila Nova de Gaia, especialmente durante o primeiro mandato em que teve como vereador o Prof. Poças Martins. Sobre guerras partidárias no PSD, prefiro não comentar, apenas direi que tudo aponta para que José Sócrates tenha (pelo menos) um segundo mandato.

O que é que isto tem a ver com o Porto e Norte de Portugal? Pouco. E tudo! Mas se o nosso TAF deixou passar o desabafo da Cristina Santos, pode ser que deixe passar este meu comentário. Ainda que, pela minha parte, evite voltar a temas nacionais e tão políticos (no sentido mais restrito). Face ao Governo, estou sobretudo apostado na defesa do Norte e de uma das duas maiores metrópoles do país: coisa difícil, podem crer, porque para um excelente governo, falta-lhe mais vontade descentralizadora (ainda que sejam de esperar algumas boas notícias em Setembro/Outubro).