De: APSPBA - "Encerramento da escola do Aleixo"

Submetido por taf em Sexta, 2007-07-27 18:22

Exmo. Senhor Eng. Tiago Fernandes,
Os nossos respeitosos cumprimentos.

A Direcção da APSPBA, a propósito do comentário produzido por V. Exa. no blog “A Baixa do Porto”, sobre o encerramento da escola do Aleixo (“Parece-me fundamental que as crianças convivam regularmente com outras realidades que não apenas a do bairro degradado onde habitam. Há vida além do Aleixo!”), tomou a liberdade de redigir este texto, por discordar dessa afirmação.

De facto, depreendemos pelas suas palavras, que julga genuinamente que as crianças do Aleixo serão transferidas para escolas com realidades diferentes da escola do Aleixo. Julga que as crianças do Aleixo vão assim conviver com crianças diferentes, oriundas de outras realidades sociais, com outras vivências. Acredita na propaganda autárquica divulgada a este respeito.

Ora, não há nada de mais errado do que acreditar nisso!

A Escola das Condominhas e de Lordelo pertencem ao Agrupamento de Escolas Leonardo de Coimbra (filho) e a sua população escolar é oriunda, na sua esmagadora maioria, de bairros camarários desta freguesia onde os problemas sociais são precisamente os mesmos que existem no Aleixo.

Dessa forma, as crianças do Aleixo não vão conviver com nenhuma realidade diferente. Vão conviver com a mesma realidade. Vão conviver com crianças de outros bairros exactamente como o seu. Vão conviver com crianças do Bairro Pinheiro de Torres, da Mouteira, de Lordelo, da Pasteleira Nova e Velha, que infelizmente convivem, também elas, com os mesmos fenómenos sociais que convivem as crianças do Aleixo, que infelizmente vivem, também elas, em bairros degradados como vivem as crianças do Aleixo.

Mas, mesmo que isso fosse verdade, mesmo que as crianças do Aleixo fossem de facto conviver com uma realidade diferente, discordamos que o encerramento da escola do nosso bairro se faça a qualquer preço!

Na nossa opinião, que falamos dos assuntos com conhecimento de causa, achamos que as consequências serão catastróficas. Não apenas para as nossas crianças, como também para as crianças que frequentam as ditas escolas de acolhimento. A Escola de Lordelo e das Condominhas não têm condições para acolher as crianças do Aleixo. A CMP afirma que sim! Mas, curiosamente, quando em 2003 o vereador da educação Paulo Cutileiro defendeu pela primeira vez o encerramento da escola do Aleixo, considerava que seriam necessárias obras nesses estabelecimentos de ensino para receber os novos alunos (vide, por exemplo, o artigo publicado no Jornal Público, local Porto, edição de 15/11/2003).

Ora, como sabemos que nada foi feito nestes últimos anos, essas escolas continuam sem condições, pelo que serão obrigadas a funcionar em desdobramento (com turmas com aulas de manhã e outras com aulas à tarde) o que porá desde logo em causa a “Escola a Tempo Inteiro” (as actividades do prolongamento de horário), as refeições escolares e provocará outros graves constrangimentos, entre os quais destacamos a degradação do ambiente escolar.

A este respeito não é preciso ser especialista em matéria de educação para perceber que escolas como estas, com alunos oriundos de meios sociais desfavorecidos e problemáticos, funcionando sobrelotadas, originarão mais prejuízos do que benefícios. Serão os problemas de indisciplina a aumentar gravosamente, dentro e fora das salas de aula! Será o sucesso escolar posto em causa! Será o absentismo e abandono a aumentar, etc. e etc.!

Em suma, o ambiente escolar degradar-se-á. Se tiver dúvidas disso, informe-se sobre os problemas existentes na escola sede do agrupamento, a EB 2,3 Leonardo de Coimbra (filho), onde chegam os alunos de todos os bairros camarários da freguesia.

Nesse sentido, em vez de se encerrar a escola do Aleixo, aquilo que seria fundamental, isso sim, era um investimento forte, um projecto pedagógico direccionado especificamente para estes alunos, professores motivados e especificamente seleccionados para trabalhar nesta realidade. Só assim, contrariando a massificação do ensino (que é aquilo que pretendem com o encerramento da escola do Aleixo), contrariando a criação de grandes armazéns de meninos, será possível obter bons resultados. Só com processos de ensino individualizado, com turmas constituídas por poucos alunos, com recurso a técnicos especializados de diferentes áreas será possível optimizar as situações de aprendizagem, diagnosticar insuficiências e dificuldades e reorganizar o processo educativo. Nada disto será possível com escolas a arrebentar pelas costuras, com alunos difíceis, com percursos educativos marcados pelo insucesso e desinteresse.

Até porquê, voltando ainda ao tema “conhecer novas realidades”, perguntamos também que efeito isso produzirá, se depois das aulas, as crianças voltam ao bairro. Mais ainda, seguindo esse argumento, porque não fecham a escola de Aldoar, do Cerco, da Pasteleira, do Falcão, do Lagarteiro, do Viso, de Francos, da Fonte da Moura, das Campinas entre outras.

Assim se vê que não são critérios pedagógicos que estão na génese do encerramento da nossa escola, pelo que replicá-los repetidamente é um erro. A CMP argumenta precisamente na questão das “novas realidades”, “no hipotecar do futuro destas crianças”, argumentos populistas que colhem alguns adeptos.

Mas, se a CMP quisesse mesmo saber das crianças do Aleixo, se a CMP estivesse realmente interessada nos seus problemas, não seria de esperar uma intervenção social no bairro? É que, desde 2002, bem pelo contrário, aquilo que existe é zero. E, pior do que isso, anos e anos de investimento público, pago com o dinheiro dos impostos de V. Exa. e dos beneméritos parceiros comunitários, perdeu-se completamente. As infra-estruturas construídas nessa altura estão à mercê da degradação (o mini-ginásio, a cerâmica, a carpintaria, a sala de jovens, o parque desportivo, os ringues, os gabinetes de atendimento social) e os projectos de intervenção comunitária acabaram repentinamente. Nem sequer a nossa instituição, que é hoje o único organismo com trabalho social no bairro, que atende directamente nos seus equipamentos sociais mais de uma centena de crianças, adolescentes e idosos, recebe qualquer tipo de apoio. Nem mesmo a própria Escola, que nestes anos tem vindo paulatinamente a degradar-se por falta de investimento camarário. Perante tudo isto, será que alguém acredita nas palavras piedosas do vereador da educação? Será que alguém tem dúvidas que os objectivos são outros e bem maquiavélicos? Por isso, a conclusão que retiramos de tudo isto é simples: são os interesses imobiliários que ditam o encerramento da nossa escola!

Se não fossem esses os interesses na base desta proposta, quem é capaz de nos explicar a razão pela qual o senhor Eng. Lino Ferreira, Director Regional de Educação do Norte, em 2004, não decretou o encerramento da escola do Aleixo nessa altura, como era objectivo da CMP. A razão é muito simples, do ponto de vista técnico, do ponto de vista pedagógico, o encerramento da escola do Aleixo é um erro. Por essa razão, o Eng. Lino Ferreira (actual vereador do Urbanismo, eleito nas listas do PSD, como todos sabemos) não soçobrou perante a intenção dos seus correligionários. É que os argumentos invocados pela CMP e replicados no comentário de V. Exa. só fazem sentido no seio da opinião pública menos esclarecida.

Com os melhores cumprimentos, somos,
A Direcção da APSPBA

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Nota de TAF: APSPBA = Associação de Promoção Social da População do Bairro do Aleixo