De: Rui Valente - "Críticas e difamações"
Um dia, deve ter havido alguém que se lembrou de incutir na opinião dos portugueses a ideia de que é feio, e parece mal, criticar sem previamente se munir de toda a sorte de documentos que atestem e provem as ditas cujas críticas. Não sei exactamente quem foi (e peço desculpa ao amigo TAF por também não o poder provar), mas palpita-me que a genialidade da ideia não saiu do profeta Zé-povinho. Cheira-me (com todo o respeito pelas excepções) que quem lançou a confusão ou foi advogado ou foi político. Se a intenção foi baralhar para manipular, então só me resta tentar esclarecer para evitar confusões.
Só que confundir crítica com acusação e difamação pessoal, não só é incorrecto como totalmente injusto. Enquanto a crítica, mesmo a mais satírica e contundente, pode ajudar a despertar consciências sem ter forçosamente de ofender ninguém, a calúnia acusativa pode destruir a vida de uma pessoa. As diferenças são abissais.
Conviria, por isso, sabermos estabelecer bem as diferenças sem esquecermos, desde logo, que não há aqui na "Baixa do Porto" ninguém que em qualquer momento não tenha lançado a sua farpazinha, com a maior ou menor subtileza, sobre um qualquer assunto, atingindo directa ou indirectamente uma qualquer pessoa. Eu próprio já aqui fui criticado algumas vezes. Mas é mesmo assim, sujeitei-me a isso a partir do momento em que decidi participar neste espaço de opinião que se pretende o mais público possível, e os outros participantes também. Nem imagino que interesse teria este blogue sem alguma controvérsia. As ideias alternativas ao que se vai fazendo de errado na cidade também são de louvar, mas no caso decidem tanto como a crítica pura e dura.
Lamentavelmente, no nosso país, de um modo geral, há muita mais matéria para o descontentamento do que para o contrário. Ocasionalmente, há uns casos esporádicos (valha-nos isso) de sucesso individual em áreas tão distintas como a ciência e o empresariado, passando pela arquitectura até ao desporto. Mas, apesar desses exemplos, será honestamente esse o espelho real do país? E o desmprego meus senhores? Não, não se trata dos senhores ministros, nem dos profissinais da política que estão desempregados, trata-se de uma crescente fatia do eleitorado que neles acreditou.
Não aprecio fado nem Calimeros, mas é importante sermos realistas. Há tanta, mas tanta coisa ainda a funcionar mal neste país, que se torna irresponsável abrandarmos a crítica. Não terá já acontecido a muitos de nós elogiarmos o trabalho de um político, para passado pouco tempo assistirmos a verdadeiros volte-faces comportamentais e sermos obrigados a mudar de opinião? Sócrates não nos terá criado a ilusão que seria desta vez? Ainda pensam assim, hoje?
Pela minha parte, os cartões de crédito para os políticos estão quase esgotados. Acho mesmo que são eles que estão em dívida para connosco.
Rui Valente