De: Ricardo Coelho - "O Porto precisa de mais casas?"

Submetido por taf em Quarta, 2007-07-04 21:17

Uma pessoa mais optimista que veja esta notícia ficará certamente alegremente a imaginar hordas de novos habitantes a invadir a cidade, devolvendo-lhe a vitalidade que em tempos teve. Mas alguém que tenha os pés assentes no chão que pisa já percebeu há muito tempo que o problema do Porto está longe de ser o de falta de habitações. O problema que temos que resolver está descrito no fim da notícia: o preço das casas é demasiado elevado.

Vivemos num país onde as autarquias estão sob o domínio dos promotores imobiliários. O financiamento das autarquias depende da aprovação de nova construção, o que cria laços pouco transparentes entre as câmaras e os empreiteiros. As mais-valias resultantes de actos administrativos são apropriadas totalmente pelos proprietários dos terrenos, o que resulta num estímulo directo à corrupção. Tudo isto leva a que a cidade cresça além dos seus limites, ocupando-se espaços que deveriam ser dedicados a áreas verdes ou de lazer ao mesmo tempo que o centro se desertifica.

No Porto a situação não é diferente. Entre 2001 e 2005, já no mandato de Rui Rio, a cidade perdeu 20 habitantes por dia, apesar de todas as promessas em sentido contrário. No mesmo período, contudo, a construção de novas habitações não parou. Ainda hoje, tal como é relatado na notícia citada, novos edifícios crescem como cogumelos por toda a cidade. Arrisco-me a deduzir que compensa construir um novo prédio mesmo quando se vende apenas uma fracção dos apartamentos. Com os custos da construção reduzidos à custa da exploração de imigrantes ilegais e o preço das casas hiper-inflacionado por uma bolha especulativa que, segundo o Economist, é a maior de sempre, os lucros das imobiliárias estão assegurados mesmo quando não há uma real política de repovoamento da cidade.

Perante esta realidade, apenas posso esperar o pior da SRU. Imagino a Baixa daqui a uns anos e o que vejo são casas novas, de luxo, mas vazias. Vejo uma Baixa cada vez mais triste, povoada por um pequeníssimo punhado de novos-ricos animados pelo subsídio-dependente La Feria. Enquanto não tivermos uma Câmara capaz de enfrentar os interesses dos especuladores imobiliários, não há razão para esperar um desfecho diferente.
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Ricardo Coelho