De: Cristina Santos - "Vieira do Minho"
Vieira do Minho é um concelho que, tal como nós, anda à procura de responder a um novo mercado, o do turismo rural em massa. Reconstruíram as casas e aguardam os turistas, que virão pela ponte do Saltadouro, onde um dia enfrentaram com ferramentas agrícolas as tropas do Napoleão. Os campos são agora jardins e os barcos são de recreio. As casas não se reconstroem porque há-de aparecer um Holandês maluco que as há-de comprar, a zona é histórica e a paisagem é bonita.
A população desaprendeu com os fundos da UE, foram rodeados de projectos de milhares, promovidos por gente desconhecida, que garantiam emprego e facilidades, foram literalmente seduzidos a trabalhar por conta de outrem, profissões mais leves, menos trabalho e mais rendimento, abandonaram os campos. De início o nível de vida subiu e realmente não era necessário esforço para ganhar dinheiro. Era tudo sorte e multinacionais. À data não se percebia que, em troca disso, se abandonava a arte própria, a capacidade de produção nacional.
Havia pequenos agricultores, passavam demasiado tempo nos campos, o Estado não se dispunha a ir falar com eles, quando souberam dos fundos depararam-se com a distância e o excesso de papelada para quem mal sabia escrever. Não transformaram os palheiros em escritórios, não geraram emprego para os filhos, mas continuam por lá, uma mulher num campo, outra noutro, na cabeça não trazem os lenços coloridos, trazem panos pretos bem amarrados e carregam fardos às costas, a gente interroga-se porque não usam elas carrinhos de mão. Elas sabem, se os mais novos tivessem sido educados lá, saberiam introduzir tecnologia, inovação, gerar empresas para que pudesse continuar a viver. Se os projectos de milhões tivessem subsistido, mas nem formação trouxeram, só empregos acessórios, e as eólicas não dão emprego a ninguém. As professoras de todas as gerações foram recentemente transferidas e vieram novas, com novos tributos, que não querem ficar lá e agora as que partiram também já não têm interesse em voltar. Restam poucos, não precisam de ir ao médico para ele saber a dor que sentem, vêem-se na rua todos os dias.
Votam na indiferença, 30 anos de novo regime e nada mudou por lá. Cumprem a tarefa, porque receiam que o Governo suspenda o fornecimento de luz e essa é uma mais-valia que demoraram tempo a conquistar. Os padres continuam a ser reconhecidos, investem em lares, creches e foram eles que durante muitos anos ministraram a telescola, os primeiros s tecer críticas à globalização, aos hippies e às mini-saias. Que deram leite às mulheres viúvas, leram livros quando ninguém se dispunha para o fazer. Demitir uma directora? Deve ser uma coisa muito grave, para Lisboa se preocupar. Estas populações já se esqueceram ou se calhar nem se lembram da Beleza. Nem importa, importa é perceber que há gente que não sente o mínimo remorso ao delapidar um País.
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Cristina Santos