De: Manuel Leitão - "Quem marcou o primeiro zero?"

Submetido por taf em Sexta, 2007-06-29 09:48

Boa noite, senhores ouvintes! Aqui estamos no Estádio da Bolsa para relatar o grande encontro desta noite da Liga Solteiros/Casados do Porto, entre os Prós e os Contras. A arbitragem está a cargo de Campos Ferreira que, lembro, tem uma classificação bastante sofrível no respectivo ranking e que, durante a tarde, certamente aproveitou para avaliar o terreno de jogo. Apesar da beleza do recinto as condições para o desafio não são as melhores, facto de que já se queixou o realizador do canal de televisão que cobre também este acontecimento. De facto, os jogadores e o público têm pouco espaço para que as câmaras os consigam "apanhar" mas, mesmo assim, descobrimos a olho nu algumas caras conhecidas: Dorminsky, Pulido Valente, Pôncio Monteiro, Pinto da Costa (ex-Morgue), A. Amorim... - diz-me aqui o colega do lado que vieram só para fazer número, logo veremos. Outros estão ausentes: o Prince de Campanhã, o irmão desavindo de Gaia, o banqueiro anarquista, perdão, bairrista. Bom, parece que o jogo vai começar mas... o que é isto??? Só está em campo a equipa dos Prós e, curiosamente, os equipamentos dos seus jogadores são quase todos iguais: fato azul, camisa mais ou menos branca e peúgas pretas. Esperem: um tem peúgas azuis, é o "capitão". Mesmo assim, o árbitro apita e o jogo começa com o "capitão" a agarrar a bola e a tenta driblar o árbitro o que vai conseguindo com alguma facilidade, até que a bola começa a girar pelos outros jogadores, sem nunca passar a linha do meio campo; um dos "craques", oriundo há muito anos das camadas jovens de Marco de Canaveses, meio ensonado, manda uma "balão" e a bola vai caír na Fontinha. Por esta altura, já alguns espectadores aproveitando os breves momentos em que a bola sai das quatro linhas, vão mandando uns bitaites: um deles aproveita para fazer umas citações e a malta ri-se muito, generosamente. Outros, da Cultura, nem sim nem não, antes pelo contrário, numa louvável atitude de não complicar. De novo no terreno, o esférico é pisado repetidamente pelo jogador que acumula funções com a de director do estádio, mas a coisa não ata nem desata, não há profundidade de jogo. Por breves momentos um sósia de Rui Barros, mas da Vila da Feira, embrulha-se com a redondinha mas a habilidade é pouca e, aparentemente, a vontade nenhuma. Outro, da Trofa, tenta conduzir uma jogada pelo centro mas a manobra é toscamente executada e, entretanto, o árbitro acaba por apitar para o intervalo. Convém desde já dizer que o trabalho do juiz tem estado dentro dos parâmetros a que já nos habituou – fraco, talvez por acreditar ser dono da bola e estar convencido de que também sabe jogar. Sabemos que no intervalo irá trocar uns galhardetes com um amigo da Liga do país vizinho, tudo numa de grande cordialidade. Conseguimos averiguar que, afinal, a equipa dos Contras não veio por não ter sido convidada (pelo menos, em parte). Faz falta o ponta esquerda, jovem promessa da Avenida da Boavista, que costuma romper as defesas adversárias com grande tenacidade. Também não está o belicoso médio que usa uma estrelinha com a cabeça solta do pescoço, nem mesmo qualquer elemento da “mãozinha” marota (esta é mais forte no flanco direito).

Recomeça o jogo mas o clima de modorra mantém-se. O “capitão” empertiga-se de vez em quando, o juiz vai apitando a torto e a direito. Os Prós parecem satisfeitos com o resultado e o jogo termina como começou: o marcador assinala um duplo zero. O público sai ordeiramente e, lá fora, diz-me o nosso repórter de exteriores, dois putos que não tiveram direito a entrar têm este diálogo: “Quem marcou o primeiro zero?”, pergunta um. “Todos”, responde o outro.

Um bom resto de noite para os senhores ouvintes e para aqueles que, entretanto, adormeceram, bons sonhos já que a realidade é o que é. Até sempre!