De: Helena Henriques - "Participação e cidadania democrática, Rui Rio e o Rivoli"
Uma vez que o debate sobre a questão do Rivoli está aceso, gostaria de dar o meu contributo e, nesse contexto, fazer notar ao Arq. Pedro Aroso que do seu texto se podem tirar as seguintes ilações: tendo o governo PS maioria, terá então todo o direito de construir aeroporto na Ota ou na Porcalhota, como lhe aprouver e os cidadãos deverão calar democraticamente(!), aproveito também para lhe lembrar também que o Sr. Hugo Chavez foi eleito por maioria em eleições presenciadas por observadores internacionais, o que certamente (e como frisa), não legitima os rumos ditatoriais que alegremente tem assumido.
Com isto quero dizer que os cidadãos do Porto, apoiantes ou não do Dr. Rui Rio, têm todo o direito de expressar o seu desagrado pelas decisões tomadas no exercício do seu mandato - como o fizeram relativamente ao Rivoli. Ou seja, as manifestações de desagrado relativas à coisa pública devem merecer todo o respeito quer por parte dos representantes democraticamente eleitos pelos cidadãos, quer por parte de outros cidadãos que discordam ou nunca sequer ponderaram o assunto - creio ser este um princípio básico de democracia.
Posto isto, abordo o que do meu ponto de vista está em causa na questão do Rivoli.
Ora, o Rivoli foi reabilitado com fundos do FEDER e outros dinheiros públicos, que na altura integraram um plano de investimento na área cultural que abrangia a programação, implicando uma oferta cultural diversificada ao público da cidade. Eventualmente, o investimento então feito pode explicar a tal abundância de artistas nesta área metropolitana - aliás confirmado pelo Sr. La Féria - é que há também ensino artístico e apetência por estas áreas.
Ora, esta maioria camarária entende que tal investimento é obsoleto, como tal entrega o equipamento a um produtor comercial que deverá pagar 5% da bilheteira - assim, há na melhor das hipóteses a opção por deitar fora todo o investimento feito até agora. Acabou-se a diversidade, agora há a aposta no género musical - um género vocacionado ao entretenimento, logo comercial. Pior, não se percebem os contornos do tal concurso ou consulta que validam esta decisão. A ausência da programação do Rivoli poderá não significar nada para o Arq. Pedro Aroso, mas seria simpático (e democrático) se admitisse que para mim, e para muitos outros habitantes da área metropolitana, significa que para poder fruir um espectáculo de dança contemporânea do circuito internacional - tive o prazer de assistir a espectáculos de Alain Platel, Bill T Jones, Companhia Rosas, William Forsythe, entre muitos outros - será necessário ir a Lisboa, porque no Porto resta o Auditório de Serralves cujo palco é pequeno para apresentar muitos espectáculos, e a vocação do Teatro Nacional de S. João é, naturalmente, o teatro.
Pior, o suposto produtor comercial de sucessos de bilheteira ainda se vem queixar da falta de equipamentos técnicos que o surpreendeu. Quanto a este ponto (outro dos pontos que me deixam perplexa neste negócio) há que dizer o seguinte: se a produtora do sr. Filipe La Féria concorre à concessão de um teatro, deveria informar-se de todas as condições técnicas e logísticas envolvidas - só assim se encontra em condições de apresentar uma proposta realista - mais ainda, tal como os outros concorrentes, recebeu um inventário do equipamento do Teatro, onde certamente não constava a tal máquina de fumo.
Assim, muito me aliviaria o abandono, pelo sr. produtor de sucessos de bilheteira, de um discurso cuja leitura (para mim) é a de que os "mecenas" municipais terão de reforçar o seu "mecenato". Nada tenho contra as produções do Filipe La Féria, agora entendo que estão na área do entretenimento que, como tal, não tem de ser subsidiado. Por isso não entendo que as autarquias sejam consideradas mecenas, e mais, espero sinceramente que a D. Ermelinda não seja tão subsidiada como os tais subsidio-dependentes de que tanto se fala.
Já não me parece aceitável o teor do discurso da página da CMP, principalmente o vídeo anónimo que tanta celeuma tem causado e, com razão por motivos vários, o cidadão sub-director de um jornal tem direitos de cidadania e como tal de manifestar-se. Se isso levanta dúvidas sobre o seu profissionalismo, bom, é uma questão que ele terá ponderado - eu sou de opinião que mau seria esconder as suas opiniões em troca de uma isenção virtual. Fica por saber quem fez o vídeo, como foi parar à CMP e qual o interesse de provar "a frontal oposição política de um cidadão à Câmara do Porto e ao seu Presidente", realmente, é difícil acreditar que a mensagem não seja, como já li algures "nós sabemos quem vocês são e onde andam" - caro Arq. Pedro Aroso, Chavez não o faz melhor.
Aproveito para cumprimentar todos os participantes desejando um bom S. João.
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Helena Henriques