De: Artur Vieira - "Rivoli, Cristo Estrela, Câmara, Grande Prémio e outros quejandos"
Sou leitor passivo da "Baixa" há dois anos. Resolvi hoje passar ao estado activo para adicionar algumas questões e observações ao debate que aqui, saudavelmente como sempre, se trava.
- 1. Uma manifestação de 350 ou de mil pessoas poderá ser considerada como "UM IMENSO PROTESTO", como, com tanto dispêndio de caps-lock, aqui se escreveu? Numa cidade de 233 mil pessoas e numa área metropolitana de 1,5 milhões, mil pessoas são assim tantas e tão significativas? Além do mais, não sendo uma manifestação espontânea (ao contrário daquilo que, erradamente, o JN noticiou), terá assim tanto significado e tanta importância?
- 2. Um teatro municipal é pago com as contribuições dos impostos nacionais e da colecta municipal. E, tal como todos os edifícios públicos, serve para criar utilidade, satisfação para a sua comunidade. Objectivamente, está ou não a ser criada mais utilidade para a população da nossa cidade quando o seu teatro tem a sala cheia do que quando lá eram apresentadas peças que, independentemente da qualidade e do mérito, não iam para lá de umas poucas dezenas de espectadores?
- 3. O mandato que este Presidente da Câmara recebeu nas últimas autárquicas, quer queiramos quer não (e eu quero), dá-lhe poderes suficientes para decidir sobre que futuro dar ao Rivoli, que reforma empreender. Como disse o arq. Pedro Aroso, um dia Rui Rio terá que sair da Câmara. Além disso, já em 2009 teremos eleições. É aí que se julgam os projectos políticos para a nossa cidade. Para todos os efeitos, uma maioria absoluta é uma expressão bastante clara da vontade dos eleitores. E é com isso que todos têm de viver. Se, em 2009, o projecto político que hoje governa a cidade for derrotado, e os sucessores tiverem outro plano para o Rivoli, o mesmo será implementado. O mundo não acaba hoje. Nem o Rivoli.
No entanto, concordo que é de exigir uma cultura de maior transparência por parte da Câmara. O site, tão hiperactivo, poderia ser utilizado para esclarecer qual é o vínculo estabelecido com a empresa do sr. La Féria ou da D.ª Ermelinda, ou de quem quer que seja que está a produzir o musical, e qual é o objectivo final da Câmara - avançar com uma parceria nos moldes em que anteriormente se falava, limitar-se à concessão para exibição do Jesus Cristo Super Star, reabrir o concurso, etc., etc..
Quanto à notícia de que Filipe La Féria afirma que não continuará no Rivoli se o musical não for lucrativo, não compreendo sinceramente a indignação geral nem as declarações de João Teixeira Lopes. O mais natural é exactamente isso. Estranho seria se ele se sacrificasse, mais o seu património, para oferecer o musical à cidade independentemente da receita que este gerasse. Trata-se de um empresário, não de um filantropo. Veja-se o caso da concessão das praias. São território do Estado, que é concessionado a um determinado privado para que o rentabilize. Se este não tiver lucro, é claro que abandona a concessão logo que possa.
De resto, e sem me alongar muito mais, queria só deixar três perguntas para as quais, provavelmente por ignorância minha, ainda não encontrei resposta, e que penso que interessam para este debate.
- 1. Que espaços são esses da rede comercial de teatros (de que se fala na notícia do JN) em que o musical em cena poderia ser exibido?
- 2. Existindo outras salas na cidade (TNSJ, TeCA, Campo Alegre, Casa da Música), qual a razão para as pequenas companhias "desalojadas" não terem um espaço e uma programação nesse local? Porquê a necessidade de estarem num teatro municipal? Não são todas entidades financiadas com dinheiros do Estado?
- 3. Existe real necessidade de se utilizar uma sala de 800 lugares para a apresentação de espectáculos que, sabemos, apenas muito raramente a enchem em mais de metade como acontecia até agora? Eu compreendo que nem toda a programação cultural de uma cidade tenha que ser feita para as massas e repetindo fórmulas antigas que atraem audiência, mas para que são precisas 800 cadeiras quando se pretende apresentar trabalhos de companhias menos populares, com pouco impacto junto do grande público?
Muito obrigado,
Artur Vieira
P.S.: Só para deitar mais uma acha para a fogueira: Rui Sá escreveu que as receitas de bilheteira do Grande Prémio cobrem apenas 6% dos custos, a mesma cifra com que a CMP, e bem, justificou a necessidade de se proceder às mudanças no Rivoli. Não será tempo de esclarecer esta dualidade de critérios? De outra forma, só pode parecer, no mínimo, falaciosa.