De: Hélder Sousa - "Dúvidas e outras cruzes"

Submetido por taf em Terça, 2007-05-29 16:34

Olá.

Dos vários assuntos que gostava de abordar, queria começar pelo sensato e ponderado texto que, há dias, o Sr. Joaquim Carvalho escreveu sobre a calorosa e emotiva discussão em torno da regionalização que tem acontecido aqui no blogue. Obrigado por ter escrito esse texto.

Depois queria, com alguma ingenuidade, falar sobre a “reabilitação” que está a acontecer na Praça Carlos Alberto em apenas dois pontos:

  • 1. Parece-me muito estranho que a entidade (ou uma das entidades) responsáveis pela promoção e comercialização dos futuros apartamentos venda aquele quarteirão (Café Luso e afins) como “apartamentos reabilitados no centro do Porto” e nem sequer saiba que o que de facto estão a fazer ali é construção nova depois de terem demolido tudo o que lá havia. (Claro que ficaram as fachadas do lado da Praça para disfarçar…) Chamar reabilitação da Baixa a isto é FRAUDE e publicidade enganosa, no mínimo!
  • 2. Não percebo que reabilitação é esta que elimina as casas (e a possibilidade de as reconstruir) onde podem viver famílias a preços honestos – e por isso durante vários anos - para se construírem apartamentos T1 e estúdios a preços quase pornográficos (há quem diga “construção de luxo”) para uso temporário de potenciais estudantes e casais jovens que anseiam residir na Baixa… Será preciso dizer que estudantes e/ou jovens casais que anseiam viver na Baixa não têm nem capacidade financeira nem vontade de contrair empréstimos para investimentos na ordem dos 150-200 mil euros para comprarem um T1 ou um estúdio de “alta qualidade” construído atrás da fachada de três edifícios históricos? Será preciso dizer que estes jovens (o público alvo!) não têm capacidade de arrendar aos preços que os compradores esperam estes apartamentos? Será preciso explicar em que situação económica e profissional vivem os jovens que os senhores promotores e os senhores gestores de SRUs esperam que queiram viver na Baixa?

Para terminar queria saber se, agora que não se desce a Passos Manuel de carro, já alguém reparou na cruz que foi instalada na Praça D. João I? Depois dos Poveiros, da natalícia instalação da Praça da Batalha, temos esta cruz laferiana para eliminar as nossas melhores esperanças… Convém também perguntar (para quem não souber a resposta): quem pagou a instalação e manutenção disto? Quem pagou a mudança de iluminação da Praça D. João I? Foi a concessão/cedência da Praça no pack Rivoli? As receitas da publicidade no topo do Rivoli é para quem? Quanto tem custado à CMP o Rivoli desde de Março e até agora? E as tão faladas e prioritárias receitas? Quem vai pagar a reconstrução interior do Rivoli depois de ele ter sido (estar a ser) literalmente esventrado pelas “necessidades” desta produção?

Se uma empresa quiser fazer publicidade num espaço público paga impostos e taxas à CMP, não paga? O La Feria está a pagar a alguém para ter aquela cruz ali? Não foi o Rivoli cedido a privados porque uma gestão privada era mais eficaz para a rentabilização daquele espaço? Não devem as entidades privadas serem todas tratadas da mesma forma? Ou por esta ser de produção teatral tem benefícios especiais? Nesse caso voltamos ao investimento público nessa cambada de malandros que só pensa em ser artista, não é?… A mim parece-me tudo muito confuso e desonesto. Mas se calhar o problema é meu, porque na CMP só há pessoas honestas!

O governo desta cidade está entregue à bicharada. E a bicharada tem dificuldades em perceber a dimensão do monstro que está a nascer na Praça D. João I, alegremente amamentado pelas tetas do grande senhor (o grande senhor não é o da cruz…). Monstro que, quando crescer, nem o padrinho vai reconhecer… Mas isso para mim será uma alegria!

Uma última questão prática para quem tem experiência nestas coisas: uma grande empresa imobiliária quando apresenta um projecto de licenciamento na CMP quanto demora a ter uma resposta? Qual é o prazo legal para dar uma resposta? O que pode fazer uma pessoa individual quando esse prazo já há muito expirou e não obteve nenhuma resposta?

E termino a saudar novamente o Sr. Joaquim Carvalho, porque enquanto estamos sujeitos às piores atrocidades locais de que há memória, ainda temos a lata de nos preocupar e deitar as culpas para quem está em Lisboa!

Até breve,
Hélder Sousa