De: Cristina Santos - "Não há Pomar na minha Rua!"
Acredito que de uma maneira ou de outra o comércio da Baixa do Porto se revitalize, mas a liberalização do horário não é mais de que uma desculpabilização de entidades, que até hoje não conseguem traçar um projecto de revitalização do comércio urbano.
A liberalização de horários é uma falsa questão, há muitos anos que os cafés podem funcionar ao Domingo, e é difícil encontrar cafés abertos nesse dia, os quiosques idem. Para além de que o comércio tradicional não se reduz às imediações dos monumentos, o comércio tradicional é um pilar na qualidade de vida dos centros urbanos. Tem que ser protegido de acordo com a importância que representa poder dispor de uma mercearia em cada quarteirão da Cidade, há zonas densamente edificadas onde não existe pomar, peixaria, nem nenhum tipo de comércio a retalho, isto tem custos enormes no tal «plano social» que outros países já analisam e debatem com afinco.
É urgente regulamentar o comércio interno nos grandes centros urbanos:
É preciso regulamentar o sentido da concorrência; é inadmissível que num mês se abram 4 Centros de Estética no mesmo quarteirão, as associações comerciais têm que orientar os associados, informar que não há interesse em concorrer com os produtos das grandes cadeias, importante é a especialidade, a diversidade.
Depois, e por muito que nos custe, essa regulamentação passa também por estagnar e limitar a construção de centros comerciais nos limites das grandes cidades - os centros comerciais são um atentado à coesão social.
Os que cercam a Cidade do Porto causam-nos diariamente problemas de tráfego, de ordenamento do território - de qualidade de vida. À partida dizemos – o comércio que se actualize, mas em última análise quem perde somos nós. Os centros comerciais periféricos foram implantados em terrenos baratos, acessíveis e lucrativos, não foi tida em linha de conta a sua integração no espaço urbano existente, o benefício que nos trazem tem uma duração limitada, trata-se de um investimento com uma esperança de vida na ordem dos 20 anos.
O problema é que limitar a construção de centros comerciais não garante que as grandes cadeias de investimento se dispersem pelos centros das cidades - no Centro o custo de implantação rebenta com a escala dos interesses dos grupos - imaginem as perdas de emprego e movimento financeiro que a limitação aos shoppings acarretaria em países pobres, nos países pobres nem sequer com a Lei do trabalho nos podemos proteger.
O comércio dos centros urbanos afundou, apesar das inúmeras tentativas por parte de todos, só a Grécia e a Itália cresceram no comércio a retalho ou pequeno comércio, de resto todos se afundam e sucumbem a um capitalismo imparável, rentável e inevitável nos dias que correm.
O mesmo se aplica a outras áreas - construir na periferia/ abandono ruína do centro urbano -, mas escolher entre a nossa tradição e o conforto imediato que o novo mercado nos oferece … geralmente escolhemos o imediato, é natural perfeitamente aceitável, o que resultar dessas escolhas havemos de resolver.
Agora o que está dar é grandes grupos e rotatividade.
Os horários quanto a mim não tem muito a ver com isto, já agora os Chineses tem alguma autorização especial para abrir em Domingos e Feriados?!